[Review] Hitman: World of Assassination simplifica oferta da trilogia em compilação mais que digna
Jogo reúne os três “Hitman” anteriores, mais algumas das DLCs, além de trazer novo modo que amplia a dificuldade de forma eleganteBy - Rafael Arbulu, 13 fevereiro 2023 às 17:11
A franquia Hitman vinha sendo abordada pela desenvolvedora I/O Interactive de forma bem…bagunçada, com a empresa lançando a mais recente trilogia em formato episódico e uma série de DLCs que conversavam bem mal com seus títulos principais. Hitman: World of Assassination é a tentativa – muito bem sucedida – da empresa remediar isso.
O lançamento é, essencialmente, um compilado de Hitman, Hitman 2 e Hitman III, mais algumas de suas DLCs, um modo dedicado à realidade virtual (VR) – que infelizmente não testamos devido à ausência de um PSVR ou dispositivo compatível – e o modo chamado Freelancer, este último, de fato a novidade do jogo. Felizmente, apesar de alguns tropeços, a missão foi cumprida e World of Assassination é o pacote completo que os três jogos contemplados jamais conseguiriam ser sozinhos.
Os três jogos que você já viu – respectivamente, lançados em 2016, 2018 e 2021 – estão exatamente como você os reconhece: se curtiu a jogabilidade de cada um, então aqui o agrado será até maior, considerando que todos os episódios e missões estão disponíveis em uma linha do tempo mais fácil de ser acompanhada. E há também o adendo de um retrabalho na texturização, que deixou a parte gráfica com uma “cara” mais coerente aos consoles de geração atual.
Os três jogos também passaram por uma revisão geral de jogabilidade, para que tudo respondesse da mesma forma: se você jogou os títulos separadamente, deve lembrar que, entre um e outro, desde mudanças de botões até funções que sumiram entre eles tornavam a progressão levemente irritante. Aqui, tudo se mostra como se fosse uma coisa só – e sim, alguns bugs permaneceram, mas ao menos a I/O Interactive foi coerente até nos erros, que são bem pequenos e nenhum tem potencial de fazer você falhar missões inteiras.
Também de volta em versão aprimorada estão os chamados “alvos elusivos” – contratos de assassinato onde você tem um alvo para matar dentro de uma janela de tempo, sem salvar progresso, sem morrer, e dentro de condições específicas, como usar apenas um disfarce ou o cumprimento da missão só contar se você provocar algum tipo de acidente que leve à morte de sua presa (ao invés de simplesmente atirar na cabeça dele, soltar um candelabro em cima, por exemplo).
Se você errar ou furar algum parâmetro, então dançou: você terá que esperar um período de mais ou menos 12 horas até que o alvo se apresente de novo neste modo, para uma nova tentativa.
Ao contrário das versões originais, no entanto, Hitman: World of Assassination torna as missões dos alvos elusivos completamente opcionais – assim, quem tem um perfil mais impaciente e quiser jogar apenas as histórias principais poderá fazê-lo sem perdas.
Um ponto que ficou meio estranho, no entanto, foi na oferta de DLCs: em World of Assassination, o pacote lhe traz todos os mapas e episódios principais, a expansão de Hitman III exceto por itens cosméticos (roupas, skins e afins), todos os mapas bônus de Hitman, o modo VR, o primeiro mapa do modo de franco-atirador (Sniper Mode) e o modo Freelancer, que vamos detalhar daqui a pouco.
Ausentes disso, no entanto, estão todos os itens cosméticos, como já mencionamos, mas também os outros mapas do modo de franco-atirador, e os dois mapas extras de Hitman 2. Considerando que World of Assassination é divulgado como um “pacote tudo-em-um”, essa remoção específica de conteúdos extras parece…esquisita. De novo, não é nada que vá lhe impedir de curtir o material, mas a escolha do que incluir e do que excluir nos pareceu bem aleatória.
Falando especificamente do modo Freelancer, esta parte do jogo basicamente consiste de uma série de contratos emendados um no outro – normalmente, quatro alvos a serem assassinados por mapa. Você deve cumprir essas missões à risca, dentro dos parâmetros, de forma consecutiva, sem morrer, sem salvar e sem permitir que qualquer um dos alvos fuja. Se errar em qualquer ponto da execução, de volta para o começo você irá.
Neste modo, a progressão furtiva ainda persiste como o principal caminho, mas há uma pressão de tempo, já que os alvos podem decidir, a qualquer momento, deixar a área de ação. Para facilitar, o protagonista – o Agente 47 – conta com uma espécie de posto avançado de operações, onde você poderá selecionar armas e itens de apoio. Além disso, materiais mais contextuais – uma faca de cozinha, um veneno para drinks dos alvos ou coisas do tipo – seguem disponíveis conforme você os encontra pelo cenário (mas você os perderá em caso de falha).
O modo Freelancer de Hitman: World of Assassination se parece muito com os Alvos Elusivos, com a diferença de ser mais expandido e permitir tentativas e erros com mais flexibilidade. Conforme você avança nas missões – e se as cumprir com a elegância que se espera de um assassino que ninguém sabe estar ali – novos itens e armas serão destravados na base.
Fora isso, há certos alvos que compartilham de uma conexão: isso parece feito de forma aleatória e sem apoio na narrativa principal, mas é interessante ver, por exemplo, como um alvo que é um garçom em um determinado mapa se conecta a um sindicato criminal três ou quatro missões à frente.
Eventualmente, você chega a um chefe de organização que não lhe é identificado de cara. Ao invés disso, pistas são oferecidas para você fazer isso em campo: seu alvo é canhoto, ou fumante, ou não resiste a “petiscar” a comida de uma festa, ou é calvo, ou usa blusas vermelhas e assim por diante…em alguns casos, a ação mais criativa foi a de justamente fazer com que nossos alvos estivessem cientes da nossa presença: com isso, o líder imediatamente tentou fugir…na direção onde nós estávamos escondidos. Rapidinho e com a elegância de um estrangulamento por garrote (aquele “torniquete” feito de fio ultra fino), despachamos o alvo e escondemos seu corpo, mantendo intacta a integridade da missão.
Essa liberdade criativa dá o tom mais satisfatório de todo o pacote oferecido em Hitman: World of Assassination. O jogo recompensa a finesse, mas lhe pressiona a ser mais ousado no cumprimento de seus objetivos – e isso foi feito graças a um refinamento que encontrou o equilíbrio perfeito entre deixar você muito “solto” e forçar você a seguir uma certa linearidade. Convenhamos, se você é um agente do caos como é o Agente 47, ao mesmo tempo em que você não quer demorar demais na sua missão, você também não quer que as pessoas do local possam lhe identificar.
Infelizmente, há ainda um dos principais problemas dos jogos atuais: Hitman ainda é uma experiência que exige conexão constante com a internet. É possível jogar offline? Sim, mas muitos dos recursos mais bacanas – como a avaliação de desempenho que destrava novos recursos – ficarão fechados para você.
Isso não é problema caso, digamos, você escolha jogar offline. Mas se você tiver algum contratempo – seu roteador reiniciar, a luz da sua casa piscar ou mesmo se a conexão estiver instável ou em alta latência – você vai acabar perdendo bastante coisa por um motivo que não é apenas fora do seu controle, mas completamente estúpido, mecanicamente falando.
De qualquer forma, todos esses pormenores são contornáveis, dependendo da sua paciência ou vontade de lidar com eles. Se você conseguir ignorá-los, então este jogo pode ser uma ótima pedida para saciar sua fome por títulos de ação furtiva que requerem o uso da criatividade para progredir.
Hitman: World of Assassination já está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series S/X, Stadia, Nintendo Switch, Windows (via Steam e Epic Games).
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