De aposta revolucionária a uma decepção “das grandes”. Ao menos por ora, essa talvez seja uma forma simples e direta para caracterizar o eFootball 2022 — o novo PES —, lançado gratuitamente pela Konami para consoles, PCs e mobile (futuramente) na última quinta-feira (30).

A expectativa do novo substituto do Pro Evolution Soccer era grande e até interessante no papel: manter uma plataforma atualizada ao invés de lançar títulos por temporadas e trocar o Fox Engine pelo motor gráfico Unreal Engine 4 parecia um grande pontapé. Parecia.

Poucos dias após ser disponibilizado, o eFootball virou memes nas redes sociais devido à quantidade de bugs, gráficos bem aquém do esperado e jogabilidade duvidosa. É certo que o jogo foi liberado ainda como uma demo, mas isso não foi suficiente para os players “pegarem leve”.

 

Na Steam, o título conseguiu a façanha de superar o simulador de corrida Flatout 3, de 2011, e tornar-se o game com a pior avaliação da plataforma. Atualmente, são cerca de 17.494 avaliações ao todo, e 15.641 (89%) delas são negativas.

Avaliação do eFootball na Steam
 
Em virtude da péssima repercussão, a própria Konami disse estar ciente das críticas e prometeu otimizar o título nas próximas atualizações.

“Após o lançamento do eFootball 2022, recebemos muitos comentários e solicitações em relação ao equilíbrio do jogo, incluindo velocidade de passe e operação de defesa. Também houve relatos de problemas que os usuários experimentaram com cenas, expressões faciais, movimentos dos jogadores e do comportamento da bola […] Lamentamos os problemas e queremos garantir a todos que levaremos todas as preocupações a sério e nos esforçaremos para melhorar a situação atual. Esse trabalho será atualizado continuamente, a qualidade será aprimorada e o conteúdo agregado de forma consistente” — Konami, dona do eFootball 2022.

No entanto, as críticas só podem ser confirmadas in-game, com experiências reais, no famoso “vamos ver”. Por isso, a equipe do blog KaBuM! decidiu dar uma chance ao novo jogo de futebol da Konami para ver se os julgamentos da comunidade, de fato, condizem com o game — spoiler: sim.

Ponto positivo para a interface

A começar pelos detalhes antes da gameplay, o game traz uma nova identidade visual, moderna e minimalista. É preciso lembrar que, apesar de substituir o PES, o eFootball é um game totalmente novo, com um motor gráfico novo e uma nova premissa.

Com isso em mente, o menu do jogo é minimalista e de fácil navegação. Com pouca poluição visual (apenas alguns embaixadores do título marcando presença na tela), fica fácil de explorar as opções — bem poucas, por ora.

Menu eFootball

Aliás, esse é o primeiro problema: a falta de modalidades. Todos já estão “carecas de saber” que o jogo trata-se de uma demo e que uma grande atualização está programada para novembro, mesma data em que os itens do pack pago serão habilitados para os que adquiriram.

O problema é que as partidas autênticas e os eventos não parecem ser suficientes para saciar a “fome” dos jogadores. Enquanto o primeiro consiste em partidas offlines contra bots, o segundo baseia-se em jogos online contra outros players — e por tempo limitado — para cumprir os desafios.

Menu eFootball 2022

Já o modo “Treino”, por exemplo, nem ao menos permite que os jogadores testem as mecânicas no gramado. Apenas um vídeo tutorial é exibido para revelar os comandos básicos.

Ainda assim, as outras opções do menu, como a escolha dos nove clubes disponíveis (Barcelona, Bayern de Munique, Juventus, Manchester United, Arsenal, São Paulo, Corinthians, Flamengo e River Plate), é relativamente bonita e indica explicitamente de qual país o time é.

Ambientação do game é razoável

Se a ideia era ambientar o player a um cenário de uma partida real de futebol, a Konami conseguiu resultados razoáveis. Antes mesmo de começar os 90 minutos, o jogo traz vídeos das chegadas das delegações ao estádio, similar ao que acontece em uma partida de verdade.

A própria escolha dos uniformes traz os mantos nos cabides dos vestiários: outro ponto positivo para a Konami.

Escolha de uniformes no eFootball 2022

Já quando a pelota rola no gramado, o sistema Seamless Restart agiliza as reposições quando a bola sai das quatro linhas. Não há transições ou telas pretas para carregamento. A bola sai e é possível ver o gandula repondo a bola em campo, o que torna o jogo mais dinâmico.

Reposição de bola

Ainda há a possibilidade de ativar somente o som da torcida, simulando ainda mais uma partida real. Ao final dos 90 minutos, há uma animação da coletiva de imprensa do melhor jogador da partida. No quesito ambientação, o eFootball 2022 é “ok”.

Jogabilidade do eFootball deixa (muito) a desejar

Infelizmente, os pontos positivos param por aí. A começar pelos gráficos… eles deixam e muito a desejar. As animações de entrada dos times no gramado e dos vestiários podem ambientar, mas a qualidade dos rostos dos jogadores fica muito aquém do esperado.

Não à toa, a comunidade criticou os gráficos dos jogadores. O eFootball tem o privilégio de poder usar sistemas de scan para jogadores específicos. Mesmo sem este mecanismo, o FIFA, principal rival do jogo, é muito superior neste quesito.

 

Quanto ao gramado, não há texturas visíveis, mesmo quando a configuração está ajustada no máximo. Há muitos torcedores repetidos nas arquibancadas e o visual deles também é de baixa qualidade. Em suma, os gráficos parecem ter retrocedido.

Mesmo que seja uma tarefa impossível, vamos tentar deixar os gráficos de lado e focar na jogabilidade, outro erro da Konami. Antes de o game ser lançado, o Motion Matching prometia movimentos dos jogadores mais naturais e fluidos, mas o que foi visto foi justamente o contrário.

A condução da bola é estranha e o jogador parece dar pequenos saltos como se o gramado estivesse pegando fogo. A bola também parece pesar mais do que se pensa: os passes quase sempre são curtos, mesmo que o botão seja pressionado ao seu limite.

A ideia era simular situações reais de jogo mas os movimentos não são nada fluidos. Os dribles e as fintas também não são naturais e aparentam ser pouco precisos.

Dribles e Football

Já falando de estratégias, existem poucos planos de jogos disponíveis, limitando as táticas dos jogadores. A movimentação dos atletas também não é das melhores, o que pode resultar em poucas oportunidades ofensivas — acredite, não é a falta de habilidade do redator.

E se no ataque as coisas estão complicadas, na defesa o cenário é o mesmo. A marcação tornou-se mais manual e bem mais complicada. A defesa física pode ser algo útil, mas isso é claro, quando os bugs não acontecem e os jogadores não se trombam por qualquer contato.

O ponto positivo durante as gameplays vão para as alternâncias de câmera e os duelos 1v1 que deixam o jogo um pouco mais dinâmico. De resto, as partidas parecem lentas, os jogadores parecem pesados e, infelizmente, a jogabilidade ficou longe do sucesso da franquia PES.

Tem salvação?

De maneira geral, o título realmente decepcionou. Trocar o motor gráfico não trouxe nenhuma otimização dos gráficos. Pelo contrário: o visual do eFootball 2022 realmente parece ter voltado no tempo.

Os sistemas de inteligência artificial (IA) não deram a mobilidade para os bots ou para os jogadores sem a bola e a ideia de uma simulação real de jogo de futebol, com movimentos naturais e fluidos dos atletas, ficou apenas no papel.

Dito isso, existem duas boas notícias: a primeira é que o jogo é gratuito. Por isso, independentemente de qualquer review, o jogador pode baixar e instalar facilmente para fazer o teste baseado em suas próprias experiências e com suas exigências pessoais.

A outra boa notícia, na verdade, pode não ser tão boa assim. O game é apenas uma demo e a Konami já afirmou que está de olho nos feedbacks da comunidade e que vai preparar uma série de melhorias para as próximas atualizações.

 

Apesar disso, a versão final é basicamente esta. É claro que o eFootball pode evoluir muito nos próximos meses, mas é difícil pensar que as melhorias sejam capazes de deixar o título minimamente aceitável para a comunidade.

Se a Konami conseguir, será algo aplaudível, tendo em vistas os problemas encontrados na versão atual. Mas se as melhorias não forem o suficiente — o que é o cenário mais provável —, a companhia poderá assumir de vez a derrota para o FIFA, da EA.

Ao menos, o legado do PES permanecerá “intacto”.

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