[Review] Lies of P é uma mistura de tudo que já vimos em outros jogos do gênero (o que não é necessariamente ruim)
Apesar disso, Lies of P se destaca por trazer uma história sombria, cativante e cheia de reviravoltasBy - Luiz Nogueira, 18 setembro 2023 às 14:06
Desde seu anúncio, Lies of P me chamou bastante atenção por trazer uma roupagem nova para a história clássica de Pinóquio – algo pelo qual sou apaixonado. Isso, aliado ao fato de termos um soulslike, com claras inspirações em Bloodborne, só fez com que meu hype fosse às alturas.
Eis que, finalmente, o jogo foi disponibilizado, de modo antecipado para quem comprou a versão Deluxe, e podemos ter uma ideia do trabalho da Neowiz Games e do Round 8 Studio.
O blog KaBuM! passou a última semana enterrado neste fascinante mundo e conta, em detalhes, o que esperar de Lies of P.
História
A história não tem lá muitas ligações com a narrativa que conhecemos – principalmente para aqueles que conhecem apenas a versão da Disney. Mesmo assim, apesar da roupagem sombria, há elementos reconhecíveis aqui.
Temos, principalmente, nosso personagem principal, Pinóquio (que não é chamado assim no game, que fique claro), além de Geppetto, o Grilo Falante e a Fada Madrinha, todos com nomes diferentes – mas que são facilmente identificáveis.
Logo no começo, somos apresentados a uma sociedade em que Títeres, ou marionetes, se revoltam e começam a matar humanos. As poucas pessoas que sobreviveram se refugiram em suas casas – o que rende boas missões secundárias para os jogadores.
Como era de se esperar, controlamos Pinóquio, que parece ter sido o único Títere a não sucumbir à loucura total – não se sabe se por sua constituição diferenciada ou por qualquer outro motivo.
A ideia é enfrentar as criaturas que ameaçam a vida das pessoas e restaurar a paz da pequena cidade de Krat, que está tomada por diversas ameaças.
É interessante ver como a narrativa subverte o clássico conto de fadas em algo assustador, sombrio e que causa uma sensação de solidão a todo momento.
Outro fator que chama a atenção é que a história é contada de maneira integral – apesar de termos documentos que expandem ainda mais a narrativa. Isso é relativamente novo nesse tipo de jogo, que normalmente nos oferecem apenas uma parte de seu enredo, fazendo com que o jogador deva se atentar às descrições de itens, por exemplo.
Andar pelas ruas da cidade abandonada, mesmo que com a ajuda do Grilo Falante, tem um tom de apocalipse, já que o local está tomado por criaturas robóticas que matam qualquer coisa que me mexa.
O interessante desses segmentos são as referências. Além do já citado Bloodborne, temos até um momento que remete ao primeiro Resident Evil – e uma das situações que deve ter trazido diversos ataques cardíacos aos jogadores.
Minta para sobreviver
No caso da história original, toda vez que Pinóquio mente, seu nariz cresce. Aqui, apesar disso não acontecer, a mentira é parte importante da narrativa.
Em diversos momentos, o personagem deve omitir a realidade para conseguir progredir. Isso fica claro em certos momentos, como para entrar no Hotel Krat, em que devemos mentir que somos humanos, já que Títeres não são permitidos.
Além disso, a mentira pode significar a diferença entre passar por NPCs com máscaras de animal ilesos ou enfrentá-los. Dependendo da escolha, algumas batalhas são ativadas e, como recompensa, o jogador consegue essas máscaras, que mudam a aparência de Pinóquio – mas, ao contrário de outros soulslike, em Lies of P as vestimentas não oferecem atributos extras, são apenas cosméticos.
Braços mecânicos
Apesar de falar que Lies of P se inspirou muito em Bloodborne, esse não é o único game da From Software que marca presença aqui. Assim como Sekiro, nosso personagem possui próteses de braço que trazem diferentes efeitos para o gameplay.
O primeiro conquistado é uma espécie de gancho que pode puxar inimigos para cima do personagem. Conforme se progride na narrativa, outras próteses podem ser criadas, como as que causam dano de fogo, ácido e eletricidade.
Há ainda uma mais defensiva, que cria um escudo para que o jogador possa se defender melhor – algo bastante importante no game, mas que detalharemos a seguir.
Por isso, use e abuse dos braços mecânicos e suas melhorias – principalmente durante as batalhas contra chefes, que são bastante complicadas, mas que podem ser levemente mais simples com o uso de elementos que são a fraqueza do inimigo.
Uma das coisas mais gratificantes é aplicar, por exemplo, dano de fogo e ver aquele monstro gigante em chamas, algo que dá uma leve vantagem a nosso pequeno personagem.
Equipamentos e estilo de jogo
Os equipamentos disponíveis são diversos e podem ser modificados à vontade para que se adaptem ao estilo de jogo de cada um.
Temos facas para curta distância, floretes para quem deseja algo mais equilibrado e até grandes espadas ao melhor estilo Berserk para dar cabo dos inimigos com poucos golpes.
No entanto, algo que o jogador deve se atentar é ao peso desses equipamentos. Como em um bom soulslike, Lies of P traz limitações de quanto equipamento pode ser equipado. Portanto, no começo, não é possível equipar, por exemplo, uma espada grande e uma faca, pois Pinóquio pode ficar pesado, o que atrapalharia sua esquiva.
Portanto, é importante balancear bem todos os elementos de gameplay para conseguir ser rápido nos movimentos, já que alguns inimigos são implacáveis e conseguem encaixar sequências de golpes que, na maioria das vezes, podem ser fatais.
Upgrades
Para garantir mais resistência, estamina e melhorias significativas, os upgrades são bastante importantes. São diversos tipos de melhorias que podem ser feitas, seja diretamente no personagem, nas próteses de seu braço, no espaço do inventário e na quantidade de itens de cura disponíveis para uso.
As opções são bastante amplas e permitem uma boa diversidade de gameplay. No entanto, algo que me incomodou no começo do jogo é que não há muito para onde correr, já que atributos específicos são obrigatórios.
Isso torna o jogo relativamente semelhante para todos em seus primeiros momentos. Porém, a partir do momento em que é possível modificar mais do que apenas os níveis de personagem, a coisa muda e o jogador pode precisar se planejar melhor para obter bons resultados.
A questão é que, se um atributo for melhorado de maneira errada, ou por engano, não é possível reverter – pelo menos até boa parte da campanha. Isso é algo que me incomodou também, já que seria obrigatório reiniciar o game para conseguir seguir por um caminho diferente.
Dificuldade desbalanceada
Apesar de ter gostado muito da experiência, devo dizer que Lies of P é como uma mistura de elementos de diversos games do gênero, o que nos leva também à questão da dificuldade.
O game, apesar de ter prometido ser mais amigável – os desenvolvedores encarnaram o Pinóquio e deram uma amenizada no verdadeiro desafio -, possui momentos bastante frustrantes e difíceis. E isso não só em chefes, inimigos comuns também são altamente mortais, mesmo com upgrades poderosos.
Isso traz uma sensação de perigo constante, além de ser frutante em alguns momentos. Alguns chefes me deram bastante trabalho, mesmo com a ajuda do Espectro, uma espécie de fantasma que pode ser invocado para ajudar nas batalhas.
Mas o que mais de deixou desanimado com alguns segmentos são alguns inimigos fortes, que não chegam a ser chefes, mas que são igualmente difíceis.
Um em específico, que está logo no fim do primeiro terço do jogo, exigiu mais de 20 tentativas para ser abatido – e isso porque eu estava usando o braço e uma arma com elementos de sua fraqueza.
Portanto, apesar dos inimigos comuns serem relativamente mais simples, há desafios que exigem um pouco mais de habilidade do jogador.
A esquiva, apesar de ser um elemento importante, não funciona muito bem em todos os casos, já que a estamina é consumida sempre que se faz esse movimento. Portanto, aparar alguns ataques, mesmo que isso faça você perder vida, é a melhor opção com toda certeza.
Quando aprendi a dosar entre esquiva e a função de aparar ataques, algumas batalhas se tornaram mais fáceis.
Mesmo assim, ainda há lutas extremamente desbalanceadas, com uma dificuldade elevada, que vai fazer os maiores fãs de soulslike suarem bastante para conseguir passar.
Já não sei se isso é uma coisa boa para quem vai jogar o game pela proposta e pelo universo – que, convenhamos, é bem atrativo. Por isso, provavelmente será comum ver gente dropando o game por não conseguir superar alguns dos desafios propostos.
E aí, Lies of P vale o investimento?
Lies of P é uma aventura difícil, porém, interessante. Ele mistura elementos do gênero soulslike de maneira convidativa para a maioria das pessoas, apesar de propor que o jogador se dedique completamente à sua proposta para conseguir superar seus desafios.
Apesar de toda sua magia e mundo com vida própria, o game pode ser bastante complicado para quem está começando no gênero, embora seja bastante recompensador – e traga uma certa nostalgia – para quem insistir em seus desafios.
Vale lembrar que Lies of P chega oficialmente em 19 de setembro para PC, PlayStation 4, PlayStation 5 e Xbox Series S/X. Os assinantes do Game Pass podem jogar o game no dia do lançamento sem custo adicional.
Para realização deste review, recebemos uma cópia do game para PlayStation 5.
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