[Review] Se ‘Resident Evil 4’ era 10, o DLC ‘Caminhos Distintos’ é nota 11
DLC “Caminhos Distintos” estrelado por Ada Wong reúne tudo que ficou faltando no remake do jogo base de Resident Evil 4, reformula tudo e ainda avança de forma corajosaBy - Jessica Pinheiro, 26 setembro 2023 às 18:21
O remake de Resident Evil 4 é um dos melhores jogos lançados no promissor ano de 2023. Mesmo tendo sido um enorme sucesso de público e crítica quando foi lançado em 23 de março devido à sua execução impecável, ainda havia algo faltando em termos de conteúdo. Afinal, onde estava a campanha extra Separate Ways — que no Brasil, foi localizada como Caminhos Distintos —…?
O conteúdo estrelado pela espiã de vestido vermelho Ada Wong, costura a trama do jogo base e preenche os possíveis buracos do enredo com detalhes enriquecedores, deixando o que era bom ainda melhor. Esse modo apareceu pela primeira vez na versão de PlayStation 2 de Resident Evil 4, e fez parte dos relançamentos posteriores do título. Mas no remake, havia apenas referências sobre a campanha complementar.
A comunidade de fãs especulou por meses a fio sobre um possível DLC para o remake de RE4 com o conteúdo do Separate Ways, e eis que a Capcom surpreendeu a todos quando, de repente, revelou a campanha de Ada no evento State of Play da PlayStation, mostrando não apenas gameplay, mas revelando também a data de lançamento do modo extra: 21 de setembro de 2023.
Dado o histórico da Capcom de lançar uma “Gold Edition” dos jogos de Resident Evil onde estão inclusos todos os conteúdos bônus no mesmo pacote, acreditei que o suposto Separate Ways pudesse ser adicionado apenas em um possível “Resident Evil 4 Remake Gold Edition”. Felizmente, este não foi o caso: intitulado “Caminhos Distintos” em território brasileiro, o DLC também me surpreendeu em narrativa e em jogabilidade, além de alterar (para melhor) alguns eventos e deixar pistas sobre o futuro da franquia.
Novidades na jogabilidade
Controlando Ada, o jogador logo percebe que ela tem uma ou outra diferença em relação a Leon S. Kennedy, o protagonista do jogo base. A espiã também pode se esquivar de golpes se você apertar o botão para isso no momento certo, aparar projéteis e ataques diretos com sua faca de combate, eliminar oponentes furtivamente se aproximando por trás, desferir golpes físicos quando os inimigos estão atordoados e usar uma variedade de armas de fogo para sobreviver.
Em contrapartida, Ada é mais ágil — e talvez por isso eu senti que o tempo para apertar o botão de esquiva passa rápido demais? —, e ela usa algumas armas de fogo diferentes (e mais fortes do que as de Leon). Mas a espiã de vestido vermelho realmente se destaca quando dispara sua emblemática Grappling Gun, que por aqui ficou traduzido certeiramente como Gancho.
O uso do equipamento é um tanto limitado, podendo ser utilizado somente em locais específicos que são demarcados pelo sistema I.R.I.S., o apetrecho tecnológico que Ada usa em uma de suas retinas para escanear rastros e enxergar superfícies em que o Gancho pode se acoplar. O objeto também pode ser usado para solucionar quebra-cabeças e, acredite: quanto mais o tempo passa em Caminhos Distintos, mais a ferramenta se prova extremamente útil.
A melhor parte é que isso não significa que a resposta é entregue de bandeja pelo sistema I.R.I.S. Muito pelo contrário: a retina especial serve de maneira complementar, instigando o jogador a prestar ainda mais atenção aos detalhes, mesmo podendo enxergar mais do que um ser humano comum consegue.
O Gancho, por sua vez, acrescenta um toque mais dinâmico à exploração e ao combate, pois pode ser usado de diversas formas. Além de permitir que Ada alcance regiões muito altas ou desça de maneira segura, o equipamento também funciona em combate. Quando um inimigo é atordoado, mas está longe, por exemplo, o jogador pode apertar o botão correspondente à ferramenta. Isso faz com que a espiã se aproxime mais rapidamente para desferir um ataque corpo a corpo.
Existem ainda alguns segredinhos incríveis que fazem toda a diferença. Se você comprar o chaveiro da Ada clássica com o Mercador (trocando-o por espinélios) e o equipar em sua maleta, o Gancho ganha uma habilidade extra, por exemplo, que é mais do que bem-vinda contra inimigos com escudos de madeira.
Sem desperdício e sem medo
Caminhos Distintos tem apenas sete capítulos, mas ele cobre o jogo base do início ao fim, e ainda deixa pistas para o futuro da franquia Resident Evil. O que mais empolga no DLC, pessoalmente falando, é que ele reúne aqueles detalhes que os fãs ficaram sentindo falta no remake de Resident Evil 4, como o segundo Verdugo (nome dado aos guarda-costas do vilão Ramón Salazar).
O primeiro Verdugo, chamado Uriante, é derrotado por Leon no jogo base — tanto no antigo quanto no remake. Pesanta, a segunda guarda-costas encapuzada, por sua vez, é fundida com Salazar no game original, mas acabou ficando de fora dessa parte na nova versão. No DLC de Ada, porém, o que acontece à criatura é finalmente revelado (com direito a surpresas).
Sentiu falta da famigerada cena dos lasers também? Pois Caminhos Distintos traz de volta essa sequência, com mais ação e contexto do que no jogo original, diga-se de passagem. Estes são apenas alguns detalhes que o DLC de Ada contém, pois a cada novo capítulo eu me surpreendi com a progressão da narrativa que, felizmente, não teve medo de mesclar alguns eventos e tampouco de avançar em direção ao futuro — mas sem esquecer do presente e passado.
Sem entrar em detalhes para não estragar as surpresas, mas Caminhos Distintos é ainda mais corajoso do que o Separate Ways original, enriquecendo ainda mais o universo de Resident Evil, e especialmente toda a mitologia que circunda RE4. Mais do que isso, o jogo apresenta a melhor versão de Ada. A espiã está com um jeito ainda mais “cigana de olhos oblíquos e dissimulados” do que nunca.
Além de comentários afiados com toques de humor e sem se expor demais, a espiã de vestido vermelho mantém o jogador intrigado com sua índole dúbia e ações contraditórias. A única coisa de que senti falta mesmo foi saber como exatamente ela sobreviveu à Raccoon City no remake de Resident Evil 2. O mistério continua — e não sei se fico triste ou feliz com isso.
Resident Evil 4: Caminhos Distintos vale a pena?
Se você jogou o remake de Resident Evil 4, diria que é obrigatório jogar o DLC Caminhos Distintos. Ele costura e complementa o jogo base de uma maneira nunca vista antes, enriquecendo a mitologia a trama do jogo base como nada visto antes, além de enriquecer a mitologia deste marco dos videogames.
A jogabilidade está ainda melhor graças a ferramentas que fazem sentido para o contexto do que Ada é e faz, e mesmo cobrindo o jogo base inteiro, a campanha da espiã é mais direta ao ponto, sem excessos, ao mesmo tempo em que resgata detalhes da aventura de Leon que “ficaram faltando” (entre aspas mesmo, pois o game se sustenta sem isso também).
Além disso, é possível ir direto para o DLC mesmo sem ter terminado a campanha de Leon. Por último, mas não menos importante, a cena pós-créditos deixa pistas do que a Capcom pode abordar no futuro de Resident Evil.
Resident Evil 4: Caminhos Distintos está disponível para PC (via Steam), PlayStation 4, Xbox Series X|S e PlayStation 5. O jogo foi analisado no Xbox Series X por meio de uma cópia cedida pela Capcom.
Comentários