É sempre ruim quando um produto de grande qualidade acaba envolvido em uma briga judicial ferrenha, e parece que é justamente isso que vem acontecendo com Disco Elysium, o RPG que surpreendeu a comunidade gamer em seu lançamento, em outubro de 2019.

Desenvolvido pelo “Coletivo ZA/UM” da Estônia, o jogo é uma das produções mais inteligentes da última década, amplamente elogiado pela crítica especializada e que chamou tanta atenção que até uma possível série sobre os eventos narrados no título, a ser produzida pelo Prime Video, da Amazon, chegou a ser considerada.

E…agora, um dos autores do jogo – o roteirista Robert Kurvitz – está levando o que sobrou da empresa que desenvolveu Disco Elysium na justiça.

O caso ainda não tem muitos detalhes divulgados publicamente e tudo ainda carece de um contexto mais apropriado, mas segundo apurou o Tech News Space, tudo começou no começo deste mês de outubro, quando Martin Luiga, um dos fundadores do ZA/UM, anunciou que o coletivo estava “se dissolvendo”. Luiga citou uma (até então desconhecida) discordância interna que levou três membros essenciais do grupo a deixarem a marca ano passado e que, desses três, um (Kurvitz) abriu um processo agora.

O problema é que, mesmo para quem é da área há tempos, ainda é meio difícil determinar o que é de fato o ZA/UM: o estúdio não é uma “empresa” no sentido propriamente estabelecido da palavra. Em tese, não há cargos, governança ou hierarquia, e a marca funciona mais como um “coletivo”. Algo parecido com o Anonymous, só que voltado à produção de arte e sem ninguém escondendo suas identidades, sem hackers e invasões a servidores, se você preferir uma analogia mais que imperfeita.

O ZA/UM, no entanto, é um coletivo de artistas, responsável por divulgações que vão do campo da música, poesia e literatura, animação, curta-metragens e, sim, videogames. Este último é que rendeu o nascimento do “estúdio” ZA/UM, que meio que cresceu além dos limites do restante do coletivo e (de novo) meio que se tornou uma peça à parte sem necessariamente deixar de lado o todo.

Aí é que está o problema: a parte de jogos – e somente ela – conta com um investimento de representantes britânicos que, de acordo com Luiga, “tomaram conta” da operação, fazendo com que ela “não mais representasse o éthos” pelo qual ela nasceu.

É importante ressaltar aqui: o coletivo já contou em oportunidades passadas como operava no início, dentro de um prédio abandonado, e que pendurava edredons nas janelas para aplacar os dias mais frios (no inverno, a temperatura estoniana é uma média entre -2º C e -8º C). Então uma parte desse grupo contar com investimentos externos – para não dizer o sucesso que foi Disco Elysium – é realmente uma mudança de paradigma, no mínimo, notável.

O problema é que Kurvitz também atua por outra empresa – esta, uma empresa no sentido literal da palavra – chamada “Telomer OÜ”, e é ela quem está processando o ZA/UM. Segundo as informações disponíveis até agora, a companhia está exigindo na justiça a disponibilização de documentos cuja natureza não foi revelada, e uma data de encontro à frente de um juiz foi marcada para 28 de novembro.

Os motivos para isso são objeto de especulação a esta altura, mas há quem especule que Kurvitz queira ver – ou reaver – algum direito de propriedade sobre Disco Elysium. Especialmente considerando que a Telomer OÜ é listada como uma “desenvolvedora de jogos” e, ao menos legalmente falando, é difícil estabelecer “propriedade de marca” para algo criado por um “coletivo” – advogados, aliás, sintam-se livres para comentar abaixo se puderem esclarecer isso.

O Kotaku falou com Luiga sobre o assunto, e ele disse enfaticamente que não só não está ciente de maiores detalhes do processo, como propositalmente escolher nem procurar saber mais. Luiga foi o editor do livro escrito por Kurvitz, que antece os eventos do jogo e é ambientado no mesmo universo.

via Tech News Space | Kotaku

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