É normal recebermos críticas adversas ao nosso trabalho, mas a linha não muito tênue que separa isso da ofensa gratuita é algo que o internauta ainda não consegue conceber: infelizmente, a vítima mais recente disso é a atriz Lily Gao, que interpretou a personagem Ada Wong no remake de Resident Evil 4.

O assédio começou logo após o lançamento do jogo, no último dia 23. Alguns dias depois, Gao começou a receber críticas sobre a sua atuação, o que a levou a desabilitar comentários em seus posts nas redes sociais. O assédio gratuito, no entanto, continuou, efetivamente levando a atriz a desligar seus perfis em todos os canais, conforme aponta o IGN.

De fato, pelo tuíte acima, as críticas realmente pesaram a mão, muito desnecessariamente, vale citar. O desgosto pelo desempenho da atriz foi sucedido por votos de que ela não conseguisse mais trabalhar, ou então afirmações insanas como “parecia até que você estava de ressaca e teve que pegar um avião”.

Vale lembrar que Gao não é nenhuma novata no universo da franquia da Capcom: antes de Resident Evil 4, ela deu vida à mesma personagem no filme Bem-Vindo a Raccoon City e vinha sendo cotada para assumir o papel mais uma vez na série da Netflix nomeada a partir da franquia – o que não foi para frente porque a série toda acabou cancelada.

A publisher japonesa Capcom inclusive elogiou o trabalho de Lily Gao em Resident Evil 4. Não apenas a empresa, mas uma boa parcela da franquia também, felizmente, saiu em sua defesa, elogiando seu trabalho de dublagem e rechaçando as ofensas negativas que ela sofreu.

Ainda assim, a atriz preferiu “sair de cena”. Uma verdadeira pena. Nem ela, nem Capcom falaram sobre o assunto até o momento.

Resident Evil 4 não foi o primeiro caso de assédio

Por mais lamentável que seja lembrar disso de novo e de novo (e de novo, e de novo…), o caso de Lily Gao não foi a primeira situação de assédio e ataques gratuitos a atrizes que atuam nos videogames.

Em julho de 2020, a atriz Laura Bailey – que viveu Abby em The Last of Us Part II – chegou a sofrer ameaças de morte devido às ações de sua personagem no jogo. Neste caso, a coisa foi ainda pior já que as ameaças tinham tom de veracidade e, por incrível que pareça, não tinham nada a ver com o desempenho da atriz, mas sim por causa de uma construção de roteiro onde ela, literalmente, teve zero responsabilidade.

Fora do rótulo de “atriz”, outras figuras proeminentes também sofreram com assédio, machismo e misoginia que levaram a ataques por vezes bastante perigosos. Quem não lembra de Zöe Quinn e toda a celeuma que levou ao nascimento do movimento misógino Gamergate? Ou as sempre evidentes ameaças à crítica e comunicadora Anita Sarkeesian, cujo “pecado” foi o de apontar problemas em estereótipos femininos e como eles eram aproveitados em jogos?

O ponto é: discordar do trabalho de alguém é perfeitamente válido dentro do campo da argumentação. Mas se sua “argumentação” envolve desejar – ou, pior, praticar – o mal à outra pessoa, então você não tem muita consistência, nem confia no próprio taco, certo?

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