Activision está ameaçando recriações de mapas de ‘Call of Duty’ em ‘Fortnite’
Jogo da Epic Games tem modo de criação independente de mapas, mas versões inspiradas na franquia da Activision incomodaram o jurídico da empresaBy - Rafael Arbulu, 5 abril 2023 às 15:40
Em mais uma entrada para as notícias da categoria “pra que isso, gente”, a Activision está enviando avisos de violação de propriedade intelectual para jogadores de Fortnite. O motivo: o modo de criação independente de mapas do jogo da Epic Games – chamado “Fortnite Creative 2.0” – fez com que alguns usuários do MOBA reproduzissem mapas de Call of Duty.
Aparentemente, isso não agradou ao departamento jurídico da companhia prestes a ser comprada pela Microsoft. Segundo o criador de conteúdo Jake Lucky, criadores desses mapas estão recebendo correspondências da Activision – dentro do Digital Millennium Copyrights Act (DMCA) – ordenando a remoção de tais mapas.
Activision has begun taking down Fortnite Creative 2.0 maps for Copyright Infringement. Meaning Call of Duty inspired maps like FPS Rust, Zombies, and more will no longer be playable as creators are contacted to remove them :/ pic.twitter.com/VUENqq3Fs2
— Jake Lucky (@JakeSucky) April 3, 2023
A situação rendeu uma manifestação de um desses criadores – Mist Jawa – em seu próprio perfil no Twitter: na postagem, o influencer disse que, devido à ordem da Activision, ele simplesmente vai parar de criar novos mapas a fim de evitar dores de cabeça judiciais com o que chamou de “Modern Fortware”, uma brincadeira com “Modern Warfare”, o subtítulo da linha principal de jogos da Activision.
Ele, no entanto, continuará criando outros mapas…
I will no longer be recreating any copyright maps
Modern Fortfare along with some zombie maps
have been deleted and can no longer be played
I still plan on creating unique experainces for shooter
& Zombie fansi have also removed all tweets and YT Videos related to the topic. pic.twitter.com/TGVoHnulSu
— Mist Jawa (@MistJawaYT) April 3, 2023
Para fins de transparência, a própria Epic Games menciona, em seus termos de uso da ferramenta, que a recriação de propriedades intelectuais fechadas – como é o caso de Call of Duty – pode expor seus criadores a sanções judiciais por parte das empresas, e que a própria Epic está isenta dessa responsabilidade, considerando que, bem, falta de aviso não foi.
Ainda assim, os mapas criados – alguns, imitações quase perfeitas de modos multiplayer vistos em Call of Duty Black Ops 3 e outros até imitam o modo “Zombies” de jogos da franquia de tiro – atingiram imenso sucesso, demonstrando que há uma boa demanda de fãs que tiraram proveito da ferramenta.
Não importou: a Activision ainda forçou a “carteirada”, ressaltando que é dona da marca e, consequentemente, tudo atrelado à ela e, por isso, as criações independentes deveriam parar.
Ainda não há informações de que a comunidade como um todo tenha acatado a ordem da empresa estadunidense, mas a julgar pelo envio de correspondências oficiais – receber um comunicado de DMCA é, essencialmente, uma ordem de “se você não parar, vamos processar” – a Activision está falando sério.
DMCA não é recurso só da Activision
Os mais antenados no noticiário gamer internacional vão se lembrar de situações similares envolvendo outras empresas do setor: a Nintendo, por exemplo, é uma das campeãs desse tipo de alerta. Hiper protetiva de suas marcas, a “Big N” é conhecida por ordenar judicialmente até a derrubada de vídeos independentes no YouTube – e às vezes, nem é um jogo ou imitação: Heroes of Hyrule, um documentário sobre um jogo nunca lançado da marca, foi removido da plataforma de vídeos do YouTube a pedido da Nintendo.
Outra que gosta bastante de usar o DMCA para derrubar conteúdos independentes é a Sony – e a situação aqui chega a ser “sem pé nem cabeça”: em julho de 2022, o escritório indiano da Sony Pictures emitiu 34 comunicados – um para cada endereço de internet – pedindo a remoção de conteúdo relacionado ao Sony Liv.
O problema: o Sony Liv é uma propriedade…da Sony. Em outras palavras, a Sony mandou a Sony tirar do ar conteúdo da Sony. É, a gente também deu risada.
Ainda em 2020, quando The Last of Us 2 sofreu uma quantidade imensa de vazamentos sobre a sua história às vésperas do lançamento do jogo, a Sony começou a enviar avisos de DMCA para sites de notícia que apenas escreviam sobre o assunto – a situação rendeu matérias especiais sobre perseguição judicial como ferramenta corporativa, como mostra o tuíte abaixo:
With Sony apparently issuing DMCA takedowns for Last of Us leak discussion, we review the company's recent history of using the law to (try to) bend reality to its will.#VirtualLegality:
"Last of Us Leak Follow-Up: A History of Legal Violence (VL216)"https://t.co/t3Hnptlewh pic.twitter.com/uSnG2ZdC86
— Richard Hoeg (@HoegLaw) May 2, 2020
Em suma, a situação da Activision é apenas mais uma em um oceano de comunicados do tipo: a eficácia de aplicação do método é, no geral, positiva em favor de empresas – ou seja, geralmente, quem recebe um aviso do tipo, concede a exclusão do conteúdo problemático, mas há premissas em que companhias simplesmente abusam do sistema por não gostarem de algo que não tem como impactar diretamente seus produtos.
Se a Activision será mais uma dessa última parte, só o tempo vai dizer. Entretanto, analisando friamente, a coisa não parece favorecer a dona de Call of Duty a longo prazo. Primeiramente, a Activision não está perdendo dinheiro com os mapas em Fortnite, e mais além, todas as criações creditam a empresa como dona da marca em questão e reconhecem que o material consiste de recriações inspiradas por ela.
Até lá, a opinião pública é quem vai direcionar a percepção da Activision sobre o assunto…
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