[Crítica] Beekeeper mostra que não é preciso ‘reinventar a roda’ para um filme de ação ser bom
Nova produção estrelada por Jason Statham tem lá suas falhas, mas entrega um escape bem-vindo para quem quer algo diferente dos “filmes cabeça”By - Rafael Arbulu, 10 janeiro 2024 às 16:00
Filmes de ação gozam de uma vantagem meio única no mercado cinematográfico: nenhum deles compete por aprovações e premiações e, em sua maioria, buscam apenas entregar uma projeção bastante mentirosa da realidade – literalmente, sua maior qualidade é a oportunidade de fugir daquelas produções que nos fazem pensar demais, sentir demais.
Beekeeper – Rede de Vingança, nova produção da Diamond Films, dirigida por David Ayer e protagonizada por Jason Statham, é justamente esse tipo de filme: ele traz muito pouca – nenhuma, alguns diriam – inovação, rapidamente entra nas sequências de explosões, tiros e porrada e segue este curso até a sua conclusão, sem se preocupar muito em explicar os eventos em tela. Há quem pense que isso é ruim; eu prefiro pensar que é perfeito.
Narrativa simplista de Beekeeper é seu maior charme
Narrativamente, Beekeeper é o nome de um antigo programa militar secreto dos EUA onde, quando todo o resto – ordem, processo devido da lei etc. – vai para o vinagre, os agentes desse programa entram em ação, meio que “chutando portas e bundas” até que o status quo seja restaurado na base da pancada.
Statham vive Adam Clay, um ex-Beekeeper aposentado que se mandou para o interior dos EUA para…virar apicultor e produtor de mel (“beekeeper”, em inglês, se traduz para “apicultor”). Eis que sua vizinha, uma senhora de idade por quem Clay tem imenso respeito, se mata após ser vítima de um golpe de phishing que lhe roubou todo o seu dinheiro.
O que se sucede a partir daí é uma sequência ininterrupta de coreografias de combate a la Mercenários (filme do qual Statham é co-protagonista) e algumas pessoas importantes largando frases de choque como “espera, você está me dizendo que é um BEEKEEPER que está vindo aí? Oh, não” e similares.
As sequências, aliás, são bem previsíveis: Adam Clay mata um grupo de mercenários que o caça e, do outro lado do país, um dirigente de uma empresa de TI e o CEO, seu filho adotivo e um estereótipo do “tech bro das startups” discutem como “nossa, é um Beekeeper? É, agora fo*eu” e decidem quantos milhões terão que mover para impedir a iminente vingança do personagem principal.
Isso não é uma crítica, acredite: como eu disse, filmes de ação têm esse benefício de ser uma válvula de escape de outras produções que nos obrigam a raciocinar. Às vezes, uma proposta simples é justamente a resposta que procuramos para uma dose rápida de entretenimento – e Beekeeper entrega isso em baldes.
Se eu tivesse que apontar alguma coisa de ruim nessa parte, provavelmente seria a atuação: de todo o elenco, apenas Emmy Raver-Lampman (Umbrella Academy) parece tentar entregar uma dramaticidade ao seu papel (ela é a agente do FBI…e filha da idosa que se matou), dado o investimento pessoal de sua personagem.
Todo o restante, de Statham a Jeremy Irons (o diretor da empresa e ex-líder da CIA), passando por Josh Hutcherson (o CEO startupeiro que causou toda a briga) e Jemma Redgrave (a mãe do CEO e foco de um plot twist improvisado, mas muito bacana), todos parecem estar em uma zona de conforto que remete a diversos outros filmes que já participaram em algum momento de suas carreiras.
Fora isso, tudo se encaixa em um molde que você meio que já espera de um filme de ação.
Abordagem modernizada abre caminho para maior exploração do gênero
Filmes de ação tendem a seguir um padrão de enredo bastante conhecido: algum conflito em algum lugar justifica o envio de um ou mais agentes meio secretos, só que nem tanto. Tiro, porrada e bomba se sucedem.
A ideia de Beekeeper de manter esse padrão, mas de uma forma adaptada a tempos modernos é algo que pode vingar muito no futuro: ao ambientar a produção em uma temática moderna – os muito reais e muito perigosos golpes de phishing na internet – David Ayer conseguiu se aproveitar de um reducionismo narrativo (não é uma situação de escala global) que abre espaço para um crescimento bem amplo (pode se tornar uma situação de escala global).
Lembra-se de Duro de Matar 4.0, quando John McClane (Bruce Willis) teve que enfrentar hackers? A impressão que passa é mais ou menos a mesma: vamos pegar uma ameaça real contemporânea e posicioná-la em um contexto que justifique as cenas de ação – mesmo que Beekeeper e Duro de Matar 4.0 tenham o mesmo entendimento errado sobre “hackers”, apostando nos moleques de cultura startup com paletós, headsets e mousse afixando penteados inexplicáveis – tipo o que seu avô entenderia se você tentasse explicar para eles o Anonymous.
Apesar desse anacronismo, a receita funciona. E funciona bem: o enredo preza em afirmar a necessidade do personagem de Statham de ir atrás dos líderes dos cibercrimes – e apenas eles. Então, mesmo que o contexto dos hackers golpistas esteja estabelecido, o desenvolvimento da história ainda se aproveita de recursos familiares, dando ares de “personagem perigoso” apenas a quem merece essa percepção.
Beekeeper é diversão assegurada para quem procura distração fácil
Eu gostei bastante da sessão de Beekeeper. Apesar da narrativa primária e as zonas de conforto da maior parte dos atores, o filme todo funciona, com todas as peças encaixadas de forma inteligente e nenhum personagem ficando para trás. Até mesmo os erros de continuidade de cenas – algo comum na zona caótica que é um filme de ação – são minimizados e quase imperceptíveis.
O melhor de tudo é que o final é deliciosamente ambíguo, deixando no ar a impressão de que, se a Diamond Films quiser, pode haver uma continuação. Se não quiser, o término desta produção também serve como fechamento. Esse tipo de conclusão cinematográfica é relativamente rara, o que me deixou particularmente contente.
Beekeeper – Rede De Vingança estreia exclusivamente nos cinemas em 11 de janeiro de 2024.
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