Pacientes que usam um headset VR sentem menos dor em cirurgias
Estudo de especialistas clínicos indicam que o uso de dispositivos de realidade virtual podem reduzir necessidade de anestesiaBy - Rafael Arbulu, 24 setembro 2022 às 9:13
Nada como sentir menos dor durante uma cirurgia, não é mesmo? Se pacientes fizessem uso de dispositivos de realidade virtual — como um headset VR — durante as operações, essa sensação de alívio seria possível. Mais do que isso, a utilização do gadget poderia, inclusive, reduzir a necessidade de aplicação de anestesias, segundo sugerem pesquisadores do Centro Médico Diaconisa Beth Israel, em Nova York, nos Estados Unidos.
A pesquisa analisou o volume de aplicação de um sedativo chamado “propofol” (2,6-diisopropilfenol), sugerindo que a quantidade da medicação não apenas foi muitas vezes menor em pacientes equipados com os dispositivos, mas também uma recuperação bem mais rápida na saída do anestésico.
Trocando em números: pacientes sem o equipamento precisaram de, em média, 750,6 miligramas por hora (mg/h) de propofol para se manterem adormecidos durante um ato cirúrgico. Paralelamente, quem usou um headset VR precisou de apenas 125,3 mg/h — cerca de seis vezes menos.
O tempo de despertar do paciente também mudou: usuários do equipamento de realidade virtual levaram apenas 63 minutos para acordar, enquanto foram necessários 75 minutos para aqueles sob o método tradicional.
A relação entre o uso de headset VR e a redução da dor
Segundo os cientistas, essas variações apareceram pelo fato da imersão de um headset VR causar uma distração mais intensa da atenção do usuário, efetivamente fazendo perceber menos a dor — isso, se essa percepção ocorresse de fato.
Em países onde a saúde pública é deficitária e planos de saúde particulares têm preços exorbitantes, isso pode ser uma bênção: segundo o CostHelper, uma aplicação de anestesia geral para cirurgias nos Estados Unidos pode custar até US$ 3,5 mil (R$ 18.088,35), com planos de saúde não cobrindo o valor total e forçando a coparticipação no usuário para custear a quantidade da medicação, o profissional que vai aplicá-la e outros equipamentos necessários.
Na prática, o estudo pode abrir caminho para uma redução de custos do próprio bolso para pacientes clínicos.
A premissa, no entanto, ainda não está pronta para ser encarada como uma prática definitiva. Os pesquisadores do centro médico admitem que pacientes sabiam de antemão a natureza dos testes, então é possível que isso tenha efeito na percepção de dor de cada um — o chamado “efeito placebo”.
Em outras palavras: saber que você não faria parte do grupo que usaria o headset VR pode ter gerado uma expectativa maior de dor (consequentemente, sentindo-a mais); em contrapartida, quem soube que usaria o dispositivo pode ter antecipado uma redução sensorial (ou seja, já era predisposto a perceber menos dor).
Os estudiosos planejam a condução de novos testes sem o aviso prévio em novos pacientes a fim de afirmar ou refutar os resultados atuais. Entretanto, eles não informaram quando isso deve acontecer.
O texto completo do estudo, vale ressaltar, foi publicado na revista científica One, da Public Library of Science (PLOS), uma das mais conceituadas publicações de pesquisa do mundo.
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