Inovação é a expressão que toda organização deseja utilizar, mas poucas conseguem explicar e, principalmente, implementar de fato. Ser reconhecida como uma empresa inovadora traz ganhos financeiros, com maior atração de investidores, e simbólicos, com imagem positiva perante seus stakeholders. Em suma: é um ativo importante que gestores e líderes precisam incluir em todos os processos e rotinas de suas equipes.

Dinheiro, cultura e estabilidade: os três desafios para a inovação no Brasil

Imagem: jarmoluk/Pixabay

Ainda que tardiamente, o Brasil despertou para a importância da inovação no ambiente corporativo. Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) indica que praticamente dois terços das empresas (65%) realizaram alguma atividade ou investimento voltados para práticas inovadoras. Mesmo assim, o país como um todo investiu apenas 1,21% do PIB em pesquisa e desenvolvimento – na China, esse percentual é de 2,23%.

Três fatores explicam essa discrepância e busca tardia por inovação aqui no Brasil: a falta de recursos financeiros, uma ausência de cultura que privilegie esse ambiente e a estabilidade/confiança nos fatores externos. Eles representam o tridente que ainda freia a busca por novas soluções e modelos de negócios.

Investimento financeiro ainda é pequeno

É preciso reconhecer que o investimento financeiro aumentou nas últimas décadas, mas ainda está atrás em relação aos países considerados mais inovadores e desenvolvidos. A mesma pesquisa da CNI mostra que a proporção do PIB saiu de 1,05% em 2000 para 1,21% em 2019 – último ano de análise. É um número estável, mas crescente, o que reforça a percepção em torno da quantidade de dinheiro depositada em pesquisa e desenvolvimento.

Entretanto, o ideal é que esse percentual seja acima de 2%, como é o caso já lembrado das empresas chinesas – não à toa, a nação que encabeça parte da revolução digital a partir dos anos 2000. O problema é que a fonte de recursos no Brasil ainda é escassa e grande parte proveniente da própria iniciativa privada, o que indica falta de políticas públicas para estimular esse ambiente. Além disso, grande parte do montante (57%) é destinado apenas para pagamento de salários dos colaboradores.

Boneco da miniatura de um homem sentado em cima de uma pilha de moedas

Imagem: Mathieu Stern/Unsplash

Cultura organizacional não estimula participação

A questão é que, mais do que a própria tecnologia, a inovação começa com as pessoas. Ou melhor, os próprios colaboradores. A cultura organizacional precisa estar pronta para permitir o surgimento de novas ideias e projetos. Isso só é possível quando todos os profissionais, mesmo aqueles em cargos mais simples, possam opinar ou participar de processos voltados a isso.

O intraempreendedorismo é um tema que está em alta justamente por criar as condições necessárias para que todos os colaboradores possam pensar em propostas que melhoram suas próprias tarefas e, consequentemente, podem se tornar em produtos e/ou serviços diferentes do objetivo da organização. O importante é permitir que a livre circulação de ideias para que todos possam buscar soluções para eventuais problemas que possam surgir.

Falta de estabilidade nacional precisa ser driblada

Nos últimos anos, o Brasil convive com a instabilidade econômica, agravada em 2020 com a pandemia de Covid-19. As incertezas financeiras e, principalmente, políticas impactam profundamente a inovação dentro das empresas. Quando não há uma clareza e transparência de qual será o rumo do país, fica difícil estruturar um planejamento a longo prazo. Sempre é preciso fazer correções de rota por influência externa.

Por isso, é importante driblar essa falta de estabilidade e encontrar alternativas para permitir que o desenvolvimento de novos projetos aconteça independentemente das condições oferecidas. Uma alternativa é consolidar uma rotina capaz de dar conta das principais tarefas e, principalmente, adotar medidas para delimitar a influência externa, principalmente da esfera governamental.

Inovação deve ser contínua

Inovar, portanto, não é uma tarefa fácil e exige conhecimento, preparação e, claro, continuidade por parte dos gestores e empresas. Não basta apenas criar processos e investir em soluções tecnológicas e esperar que milagrosamente novas ideias e projetos começam a surgir do nada. É preciso dar continuidade, retroalimentar esse ambiente com novos modelos, mais pessoas e assim sucessivamente.

Dinheiro, cultura e estabilidade: os três desafios para a inovação no Brasil

Imagem: Absolutvision/Unsplash

O Brasil tem capacidade enorme para explorar e se tornar relevante dentro do mercado de inovação e criatividade. Basta apenas incluir esses três desafios dentro do planejamento estratégico. Quando eles forem superados, finalmente iremos florescer nosso verdadeiro potencial e assumir o protagonismo que podemos ter.

 

Alessandra MontiniAlessandra Montini é diretora do LabData da FIA – Laboratório de Análise de Dados. Formada pela Universidade de São Paulo (USP), Doutora em Administração pela FEA (2003), Mestra (2000) e Bacharel (1995) em Estatística pelo Instituto de Matemática e Estatística IME-USP. A executiva é Consultora em Projetos de Big Data e Inteligência Artificial, Professora de Big Data; Inteligência Artificial e Analytics, Professora da Área de Métodos Quantitativos e Informática da Faculdade de Economia; Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA, Coordenadora do Grupo de Pesquisa do CNPQ: Núcleo de Estudo de Modelos Econométricos e Núcleo de Estudo de Big Data e ainda parecerista do CNPQ e DA Fapesp. Ao longo desses 20 anos de carreira Alessandra já recebeu 40 vezes o prêmio de “Desempenho Didático do Departamento de Administração da FEA”, foi 4 vezes premiada como “Melhor Docente do Departamento de Administração” e recebeu mais de 20 vezes o prêmio de “Professora de melhor avaliação dos cursos de graduação e pós-graduação na FEA”.

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