‘Google e Apple são prejudiciais à sociedade’, diz cofundador do Proton Mail
Capitalismo de vigilância, duopólio na indústria de smartphones e a falta de diversidade no ecossistema da tecnologia estão conectados à falta de concorrência e ao ambiente anticompetitivoBy - Liliane Nakagawa, 23 junho 2022 às 20:17
Os modelos de negócios da Apple e do Google “não são bons para os usuários [e] não são bons para a sociedade”, afirmou o CEO e cofundador do Proton Mail Andy Yen, em entrevista ao Independent.
O atual chefe da Proton também adicionou que o “capitalismo de vigilância” “não foi o motivo pelo qual Tim [Berners-Lee] construiu a web”. O pai da internet tem assento no conselho consultivo da empresa desde setembro de 2021.
Yen usa o termo ‘capitalismo de vigilância’ para se referir às companhias que coletam dados destinados à construção de perfis de usuários para vendê-los a empresas terceirizadas, que utilizam essas informações para fins de publicidade. Não à toa, a receita gerada a partir desses dados é a principal fonte de algumas empresas da Big Tech, como o Facebook. Os anúncios direcionados em detrimento da privacidade do usuário também é fonte de renda para os citados Google e Apple, com a última construindo o negócio próprio baseado em anúncios de busca na AppStore.
Desde 2014, a Proton vem criando outros serviços com foco em privacidade. Recentemente, a empresa baseada na Suíça anunciou o hub centralizado, unificando o Proton Mail, Proton VPN, Proton Calendar e Proton Drive, agora acessíveis a todos os usuários que possuem uma conta; além de melhorias e funcionalidades extras para os já assinantes de planos pagos.
O CEO comentou ainda que há planos de incluir no pacote de crescimento da Proton a gama de serviços concorrentes como programa de documentos online, gerenciador de senhas, aplicativos de chats e outros que clientes do serviço têm pedido.
“Em grande medida, os produtos e serviços desapareceram”, diz Yen. “Existem três ecossistemas, essencialmente: há a Microsoft, há o Google, há a Apple”. E o Facebook, talvez, dependendo de quem você perguntar. A privacidade precisa de um ecossistema. Você fala com a maioria dos consumidores ao redor e pergunta a eles: “Você gosta da visão do Google sobre a web? Quando eles percebem o que é, ficam aterrorizados”.
Falta de concorrência e anticompetitividade: um duopólio chamado Google e Apple
Embora a afirmação de Yen seja a resposta de muitas pessoas sobre a visão em relação à empresa que detém mais de 70% das buscas feitas na internet da superfície, outros produtos do Google continuam a ser extremamente populares. A plataforma para smartphone Android e o navegador Chrome, por exemplo, também são os mais usados globalmente e lideram com folga o ranking entre concorrentes. O ex-físico do Cern afirma que essa popularidade pode ser explicada pela falta de concorrência.
“Se você perguntar a alguém se ele quer mais privacidade e segurança … todo mundo quer”, diz Yen, mas os consumidores podem não estar cientes de que eles têm uma escolha. “Com a forma com que Android e o iOS estão definindo todos os dispositivos — de uma forma francamente anticompetitiva — num primeiro mundo móvel… qual outra coisa que você conhece?”, questiona.
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Além disso, diz Yen, os consumidores devem aceitar que estão ‘desistindo de algumas coisas’, pois “o Google gastou no entanto — muitos bilhões e teve 20 anos de avanço”. Entretanto, com o tempo, essa lacuna começa a se fechar”.
Esse movimento seria forçado pela legislação europeia, a esperança da Proton para ajudar a fechar a brecha que ainda existe entre os concorrentes menores e empresas da Big Tech que detêm o duopólio sobre o mercado de smartphone.
Leis na velocidade da tecnologia: uma necessidade
A Lei de Mercados Digitais (DMA), cujo objetivo é o de garantir a igualdade de condições para todas as empresas digitais, independentemente do tamanho, promete gerar mudanças significativas ao ecossistema da tecnologia.
Por meio dela, os usuários serão livres para escolherem navegadores, assistentes virtuais e motores de busca, bem como terem o direito de desinstalarem dos dispositivos programas padrões vindos de fábrica (nativos), algo que garante hoje posição privilegiada em relação aos concorrentes dentro da plataforma. Sem dúvidas, é um objetivo desafiador, visto que nos últimos 20 anos o mercado das plataformas digitais têm sido ocupado apenas por empresas do Vale do Silício. “Pode a Europa, de verdade, aplicá-la… e em um curto espaço de tempo para fazer a diferença?”, questiona-se Yen.
Tais decisões são necessárias sob o ponto de vista de Yen, para impedir que essas empresas de tecnologia não apenas assumam o controle de concorrentes menores — o chamado Sherlocking, praticada várias vezes pela fabricante de iPhones.
“As grandes empresas de tecnologia são tão grandes que, se não competirem com você hoje, competirão com você em cinco, seis anos”. Não importa em que indústria você está. [Pegue] o recente anúncio de que a Apple vai entrar nesse pagamento com antecedência; essa indústria vai ser dizimada”, adverte Yen.
As rápidas mudanças nesse cenário não apenas exigirá mudanças nas leis, mas uma mudança de mentalidade, explica Yen. “Por que a regulamentação está sempre tão atrasada? Não precisamos apenas aprovar a legislação e se afastar depois por uma geração; precisamos estudar a sua atualização a cada ano; precisamos de leis para avançar na velocidade da tecnologia”, conclui.
Via Independent
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