Não são apenas nos tradicionais estúdios, desenvolvedoras e publishers que os brasileiros se destacam no mercado de games no exterior. Eles também penetraram em setores diversos do entretenimento, como o streaming. Este é o tema central da terceira e última parte do nosso especial sobre brasileiros que estão atuando no mercado de jogos fora do País.

Não deixe de ver as duas primeiras partes deste especial, exclusivo do blog KaBuM!:

Dentre os entrevistados da vez estão André de Abreu, diretor sênior de operações internacionais para o Crunchyroll – conhecido por seu catálogo especializado nas populares animações japonesas. A empresa é uma das muitas que são primariamente do ramo de streaming, mas que estrategicamente decidiram expandir o portfólio e focar também em games.

Quem também conversou conosco foi Rogério Gasi, que trabalha na Halon Entertainment, especializada em efeitos especiais (VFX) e que nos conta como essa tecnologia se mescla entre games e a indústria cinematográfica global.

Por fim, conversamos também com Pedro Martins, que decidiu ir estudar no Canadá para conseguir um trabalho na área, e Márcio Medeiros, da Hitmarker Brasil, que fala sobre o movimento de profissionais brasileiros para o exterior e as possibilidades do mercado interno.

Os jogos além dos jogos: os brasileiros em diferentes setores

Abreu começou a trabalhar em comunicação e marketing em São Paulo e, em 2010, foi parar na Activision Blizzard. A empresa passou por mudanças e ele também: foi morar na Califórnia, lidando com todo o mercado latino-americano.

Fã de Diablo II, o executivo conta que não tinha planos de trabalhar com games, mas logo se encontrou na área e também no trabalho focado em cultura pop. Atualmente na comunicação do Crunchyroll, ele trabalha à frente da operação de negócios internacionais.

Crunchyroll no Nintendo Switch

Imagem: Divulgação/Crunchyroll

Para Abreu, essa junção entre games e entretenimento representa um mercado vasto no qual brasileiros podem colaborar muito com as empresas. Nesse sentido, ele afirma que todos os tipos de profissionais podem trabalhar com jogos, ainda mais se considerarmos “game” como linguagem.

Com o objetivo de orientar quem tem interesse em trabalhar na área, o profissional mantém com amigos o podcast Profissão Games. “Sou de família de imigrantes portugueses, sempre pensei em trabalhar fora do Brasil. Mas nunca imaginei que poderia trabalhar com games e recomendo a todos”, afirma.

A dica de ouro de Abreu é entender as relações entre o mercado de games e o cenário maior de entretenimento. “Acredito muito que estamos vivendo uma fase sensacional no entretenimento e acredito que cada vez mais veremos uma junção de mercados. Antes, você via o mundo do cinema separado de games, séries, livros, cada um vivendo no seu universo. Só que os fãs não são assim, muito pelo contrário, quem é fã de uma franquia de cinema, gosta dos quadrinhos e dos games, consome esse conteúdo em várias plataformas, interagem com marcas, com ídolos de maneiras diferentes e cabe às empresas entenderem e criarem oportunidades de engajamento”, explica.

“Aqui na Crunchyroll, queremos chegar cada vez mais a mercados internacionais”, pontua. “Tem empresa de streaming que agora que está entrando em games, na Crunchyroll sempre foi assim”. Recentemente, a Netflix foi uma dessas empresas que investiu em games; outras gigantes como a Amazon também procuram fazer relações e interações entre seus conteúdos.

Pedro Henrique Martins, por sua vez, saiu de Itajaí, Santa Catarina, para a LaSalle University, em Vancouver, no Canadá. Graduando em Ciências da Programação aplicadas a Jogos, ele estuda em período integral e se prepara para encontrar um emprego no setor.

“É interessante ter um portfólio bem completo para poder escolher uma área de maior interesse”, declara. Fã de mecânica dos games, já tem como projeto de conclusão de curso um simulador de parapente no melhor estilo do glider de Zelda Breath of the Wild.

“É interessante ter um portfólio bem completo para poder escolher uma área de maior interesse.”

A chegada de Martins no Canadá já foi, por si só, uma superação. “Sempre pensei em estudar fora, mas não imaginava o setor de games”, conta Pedro, complementando que chegou a reprovar em programação na Engenharia. Mas foi durante a primeira faculdade que ele percebeu que podia mudar. “Vi outras pessoas que também tiveram de aprender, abrir caminhos, observei o trabalho com engines como Unreal e comecei a pesquisar e ajudar em projetos. Achei essa faculdade e pude vir para cá.”

Para Martins, o principal fator a profissionais que queiram tentar o mesmo é a dedicação. “É importante trabalhar nos projetos da faculdade e também nos pessoais para construir currículo. A faculdade fala: se você for errar, que erre agora”, observa.

“Fazer cursos extras em plataformas como a Udemy também é muito importante, bem como preparar o LinkedIn que é uma ferramenta para contatos”, complementa. “Estou no penúltimo semestre e já pretendo me candidatar num futuro próximo. Aqui posso pedir indicações e referências dos professores”.

Cinema e mercado internacional

Na Halon Entertainment, Rogério Gasi une o conhecimento em games às necessidades da indústria cinematográfica. “Alguns filmes têm de ter itens digitais especiais inspirados nos games, e, como já trabalhei com jogos, consigo ter mais familiaridade com o trabalho”, conta. A empresa realizou efeitos de filmes de Hollywood como The Batman.

The Batman

Imagem: divulgação

Na Halon Entertainment, Gasi iniciou com consultoria e logo passou a criar tecnologia personalizada para a renderização de imagens de grande porte de grande angular em tempo real, com a engine Unreal.

Ele foi também diretor de pesquisa e desenvolvimento e, atualmente, atua como diretor de engenharia, trabalhando com todos os departamentos e projetos do estúdio. Sua proposta é criar uma cultura de desenvolvimento para apoiar as equipes que trabalham com cinemática, visualização, projetos do departamento de artes visuais e muito mais.

Mercado aquecido para brasileiros

A Hitmarker é um portal internacional para vagas na indústria de games no qual Márcio Medeiros atua como chefe no Brasil. Hoje, ele acredita que o mercado está super aquecido. “Em 2020, hospedamos mais de 39 mil vagas de diversos lugares do mundo e, em 2021, mais de 41 mil“, conta.

Medeiros auxiliou dezenas de profissionais brasileiros a encontrarem seu espaço. “É importante encontrar estúdios de jogos que facilitem esse processo de mudança de país ou que possuam algum pacote de realocação ajudando, por exemplo, na retirada de vistos de trabalho, suporte financeiro nos primeiros meses na empresa e outros aspectos que uma mudança desse tipo requer”, enfatiza.

O executivo enfatiza que para entrar no mercado é preciso identificar habilidades que possam ser disponibilizadas para o setor. “Ainda é possível perceber que as pessoas querem trabalhar com jogos apenas pelo fato de gostar de jogá-los, mas no final das contas é um trabalho como qualquer outro e é preciso ter conhecimento em determinados assuntos, conceitos e experiência em ferramentas”, explica.

Sobre os desafios do mercado brasileiro e estrangeiro, Medeiros vê a necessidade de mais desenvolvimento da indústria no Brasil e, no exterior, um movimento de mudança de cultura e atitudes. “No Brasil, há um grande número de oportunidades para quem tem nível pleno ou sênior e muito menos para quem está iniciando. Somente com o desenvolvimento do setor será possível gerar mais empregos e contar com pessoas experientes para acolher e orientar as pessoas mais novas do mercado”, pontua.

E continua: “Falando do mercado externo, acredito que as empresas precisam rever constantemente suas práticas e culturas no ambiente de trabalho. Já passou da hora de alguns problemas acabarem neste mercado: cultura machista, cultura de crunch (trabalho exagerado), assédio de vários tipos, entre outros”.

E você, o que achou no especial blog KaBuM! sobre brasileiros que trabalham com games no exterior? Tem vontade de trabalhar no setor? Vamos conversar nos comentários!

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