Signal lança globalmente recurso de pagamento com criptomoeda MobileCoin
Moeda criptográfica emprega técnicas pioneiras entre "moedas de privacidade" mais antigas, como Monero e ZcashBy - Liliane Nakagawa, 7 janeiro 2022 às 14:15
O aplicativo de comunicação criptografada Signal lançou globalmente o recurso de pagamento com criptomoeda MobileCoin, moeda digital relativamente nova e focada em privacidade. A adição do recurso em beta foi anunciado em abril de 2021, sendo testado amplamente desde meados de novembro, quando a plataforma o tornou acessível a todos os seus usuários, oferecendo a capacidade de enviar pagamentos digitais muito mais privados se comparados a uma transação de cartão de crédito ou até mesmo uma transferência Bitcoin.
O momento da implantação da criptomoeda foi confirmada pelo fundador da MobileCoin, Josh Goldbard. Ele afirma que isso estimulou a adoção massiva da moeda criptográfica, que antes do lançamento do beta global apenas dezenas de transações diárias eram vistas. “Existem mais de cem milhões de dispositivos no planeta Terra neste momento que têm a capacidade de ligar o MobileCoin e enviar um pagamento criptografado de ponta a ponta em cinco segundos ou menos”, diz Goldbard ao Wired, referindo-se aos relatórios do total de números de download do Signal.
Apesar de não responder aos pedidos de comentário sobre o lançamento global, em abril, o criador do Signal Moxie Marlinspike havia explicado que o desejo de adicionar pagamentos ao mensageiro criptografado seria para corresponder a recursos de concorrentes como WhatsApp e Facebook Messenger — ao mesmo tempo que usuários pudessem contar com as proteções de privacidade do Signal às transações monetárias. “Eu gostaria de chegar a um mundo onde você não só pudesse sentir [uma sensação de privacidade] quando você fala com seu terapeuta sobre Signal, mas também quando você paga a seu terapeuta pela sessão sobre Signal”, disse Marlinspike em entrevista à época.
Além disso, ele argumentou que o tipo de privacidade monetária requer integração com uma moeda criptográfica em vez dos tradicionais sistemas bancários e cartões de créditos, que são fáceis de vigiar. Marlinspike ajudou Goldbard a lançar o MobileCoin em 2017 já visando a potencial integração e servindo de consultor técnico de pagamento para a moeda criptográfica. O projeto do MobileCoin, segundo eles, foi focado para facilitar pequenas compras em um dispositivo móvel, com rápidas confirmações de transação e também mais privado que o Bitcoin, cuja cadeia de bloqueio pública (das finanças do usuário) pode permitir formas poderosas de rastreamento.
Para evitar esse rastreamento, técnicas que foram pioneiras em “moedas de privacidade” mais antigas, como Monero e Zcash, foram empregadas na criação do MobileCoin. Elas incluem um protocolo CryptoNote e o recurso Ring Confidential Transactions, que esconde a quantidade de pagamentos e os torna difíceis de rastrear ao misturá-los.
A criptomoeda também usa ‘Bulletproofs’, uma uma forma de prova matemática que pode garantir que uma transação tenha ocorrido sem revelar seu valor. “Não creio que seja razoável enviar transações através de um livro-razão em que todas as ações possam ser ligadas”, diz Goldbard sobre a cadeia de bloqueio menos privada do Bitcoin, que complementou ao citar inúmeras formas distintas disso acarretar problemas à privacidade. “Se eu pagar minhas contas, meu barista agora sabe que acabei de pagar meu terapeuta ou fui ao médico”. Cada transação que faço com essa carteira é agora visível para o meu barista, para sempre”.
Sob os olhos da regulação, integração de uma moeda de privacidade preocupa usuários do Signal
Após o anúncio sobre a integração de uma criptomoeda pró-privacidade ao Signal, defensores da privacidade ficaram preocupados principalmente sobre as mesmas restrições regulatórias que dificultam a compra e venda do MobileCoin nos Estados Unidos gerarem dores de cabeça legais para uma ferramenta de comunicação da qual milhões de pessoas dependem. “O Signal é super importante”, diz Matthew Green, criptógrafo da Universidade Johns Hopkins e também criador da moeda da privacidade Zcash. “Estou muito nervoso que eles vão se colocar em uma situação problemática ao flertar com este tipo de infraestrutura de pagamento quando há tanta legislação e regulamentação em torno dela”, comenta. Apesar do MobileCoin ser visto como concorrente de sua criação, ele diz que teria as mesmas preocupações caso houvesse integração do Zcash ao Signal.
A preocupação parece válida, já que o governo dos Estados Unidos ameaçou uma abordagem linha dura para com as criptomoedas, particularmente aquelas que permitem qualquer tipo de transação anônima. Em 2020, o Departamento de Justiça publicou uma nova “estrutura de aplicação” e novas regras do grupo FinCEN do Departamento do Tesouro dos EUA, as quais podem obrigar mais empresas do setor de moedas criptográficas a coletar informações de identificação dos usuários. Além de um projeto de lei de financiamento de infraestrutura aprovado pelo Congresso no ano passado, cujas duas disposições parecem exigir que as empresas e os usuários de moeda criptográfica informem à Receita Federal o número de seguridade social do remetente ou destinatário de certos pagamentos.
Apesar do cenário regulatório que preocupa usuários, Goldbard prometeu que comprar e vender MobileCoin nos Estados Unidos está prestes a ficar mais fácil. A começar pelos acordos fechados no final de 2021 com o processador de pagamento de moeda criptográfica Zero Hash e a plataforma de negociação de moeda criptográfica SFOX, que dará a oportunidade de compra e venda no território americano no primeiro trimestre deste ano. De acordo com o criador do MobileCoin, o acordo com a Zero Hash em particular permitirá os residentes do país comprarem a criptomoeda por meio dos processadores de pagamento.
Para Marta Belcher, advogada focada em assuntos civis e conselheira da Electronic Frontier Foundation em questões de moeda criptográfica, o lançamento do MobileCoin pelo Signal é um motivo para comemorar. “É preciso o anonimato do dinheiro e os benefícios das liberdades civis dele e importá-los para o mundo on-line”, diz. Entretanto, Belcher também adverte que qualquer empresa que lide com criptomoedas está entrando em uma ambiente legal apertado. “Todos neste espaço que estão preocupados com as liberdades civis deveriam estar preocupados com o cenário regulatório nos Estados Unidos no momento”, diz ela, “que está constantemente pressionando para expandir a vigilância do sistema bancário tradicional para a moeda criptográfica”.
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