Os mais velhos devem lembrar de “Os Gárgulas”, o desenho exibido no Brasil pela Globo na década de 1990 e que tratava de temas mais densos, com um tom mais obscuro se comparado aos temas da época. Gargoyles, o nome original, é na verdade baseado em um jogo da Disney na era 16-bit.

Gargoyles: Remastered é uma versão remasterizada desse jogo e, para todos os efeitos, é uma boa tentativa de aproximar a obra antiga a um público mais contemporâneo. Mas será que essa tentativa do estúdio Empty Clip renderá bons frutos, fazendo justiça à obra da época?

É…então…sobre isso…

Gargoyles: Remastered é um abraço ao erro, e não precisava ser assim

Assim como o desenho cujo nome lhe é emprestado, Gargoyles: Remastered chegou sem muita fanfarra. Nascido na segunda metade da década de 1980, eu já tinha uma memória razoável para lembrar do desenho assim que vi o anúncio em setembro, por meio de um trailer.

Ao contrário do original da época, este remaster usa todos os visuais do desenho televisivo, apostando na sua arte única como um ponto de nostalgia para gamers de mais idade. É um ponto positivo, apesar de ser praticamente o único, mas não dá para dizer que isso também tem algum efeito nos jogadores atuais. Boa parte deles, na verdade, sequer sabia da existência do desenho, ou do jogo original, ou mesmo dos quadrinhos de curtíssima vida feitos pela Marvel

Gargoyles: Remastered é um jogo de plataforma. Simples como o gênero tem em sua receita, você progride por um cenário em visão lateral, enfrentando inimigos por diversos níveis até eventualmente chegar em um chefão de área. Tudo isso para impedir que o chamado “Olho de Odin”, um artefato místico extremamente perigoso, caia nas mãos erradas.

Imagem mostra cena do jogo Gargoyles: Remastered

Imagem: Disney/Divulgação

Assim como o enredo, o gameplay é bastante simplista – ao ponto de ser falho: você tem um botão para desferir golpes, outro para agarrar e mais um para pular. Mais básico, impossível. O problema: a detecção de impacto do jogo é completamente aleatória, ora acertando inimigos em distâncias impossíveis, ora errando arremessos mesmo colado neles.

Mas não é apenas uma questão de “acertar aqui, errar ali”: o visual do jogo é bonito, sim. E mostra bem a estética do desenho (e há até uma mecânica que permite que você “reverta” o gráfico para o original de 16-bit). Mas as similaridades param por aí: o desenho tinha uma narrativa interessante, comumente abordando temas mais densos – um dos primeiros episódios tratava do risco de acesso indiscriminado às armas, por exemplo (Gárgulas saiu um pouquinho depois de Batman: A Série Animada – produções “meio dark” eram moda naquela época…).

O jogo, por outro lado, passa pelo enredo de forma simplista, apenas contando a progressão narrativa por meio de telas estáticas que facilmente poderiam ser confundidas com slides em uma apresentação de PowerPoint. É insosso e, para ser sincero, bem reducionista. Do começo ao fim, você joga apenas com Goliath, com o jogo convenientemente esquecendo de todos os outros personagens (Desdemona aparece de pano de fundo, mas só).

E ao final de tudo, a duração acaba sendo uma faca de dois gumes: o próprio estúdio estima um período de quatro horas para terminar o jogo. Eu o terminei em duas. E não é como se eu fosse um ninja dos jogos de plataforma: o fato é que Gargoyles: Remastered é dolorosamente previsível e, uma vez que você aprende a contornar os bugs de gameplay, você consegue avançar pela partida praticamente desimpedido. No começo, isso acaba estressando você, que espera um pouco mais. Pouco depois, você agradece por ele acabar tão rápido e você se livrar da partida.

Um chefe, em particular, me irritou demais: ele é praticamente impossível de acertar pelos métodos normais, por ficar se teleportando pelo espaço o tempo todo. Depois de uns raios na cabeça, vi que era possível antecipar onde ele estaria a seguir e apenas posicionei meu personagem de tal forma que 1) seus raios não me pegariam se ele conseguisse soltá-los e 2) ele nunca conseguiu soltar mais nada, porque fiquei pulando-estapeando ele, golpe a golpe. Uns cinco minutos ininterruptos de petelecos até o cara finalmente cair e eu entrar na próxima fase.

[Review] Fidelidade gráfica de Gargoyles: Remastered não compensa gameplay mal feito
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Gargoyles: Remastered não convence, e não vale o investimento

É uma pena que um projeto com potencial tão interessante tenha saído para o público de forma tão caída: Gargoyles: Remastered não convence em nenhum aspecto e seu ponto mais positivo é algo que não só apela a apenas uma parte do público gamer, mas que mesmo para ela, é esquecível.

Ao final de tudo, fica o questionamento: para que fazer algo nesses moldes? A R$ 75 de preço sugerido, o custo dele (no PlayStation 4 e PlayStation 5 – versões que valiamos – mas o jogo também está no Xbox One, Xbox Series S/X, Switch e PC) pode até parecer uma pechincha, mas por um produto que você levará duas a três horas para terminar e esquecer, isso pode acabar saindo desnecessariamente caro.

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