Evidências encontradas em novas investigações do Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos, chamada de Facebook Files, revelam que o FBI mentiu sobre a existência do laptop de Hunter Biden para suprimir conteúdo nas redes sociais Facebook e Twitter em 2020, além de creditar o caso a uma campanha de desinformação da Rússia, sem evidências, de acordo com um membro do Comitê.

Facebook Files confirmam mentira do FBI e revelam troca de favores entre rede social e governo

Imagem: Dirk Hudson/Shutterstock.com

O caso do laptop de Hunter Biden remonta ao mês de outubro de 2020, três meses antes das eleições dos Estados Unidos. À época, uma reportagem do New York Post publicou e-mails obtidos do laptop de Hunter Biden nos quais associavam o pai e candidato à presidência dos EUA a práticas de corrupção com a Burisma, uma companhia de gás da Ucrânia.

As informações foram dadas pelo ex-prefeito de Nova York e advogado pessoal do então presidente e candidato Donald Trump, Rudolph Giuliani. De acordo com ele, a máquina foi abandonada por um cliente em uma loja de computadores em 2019, cujo dono do estabelecimento, que é cego e impossibilitado de provar se o cliente era de fato Hunter Biden, fez uma cópia do HD e reportou o ocorrido ao FBI, material que mais tarde seria entregue ao advogado de Giuliani, Robert Costello, dando origem à reportagem do The Post.

O aprofundamento das investigações sobre a máquina também revelou outras conexões: da colaboração do Facebook com os pedidos de censura da Casa Branca à intervenção da administração Biden sobre o desbloqueio da transferência de dados de usuários europeus para servidores da rede nos EUA.

As denúncias partem do membro do Comitê Jim Jordan, deputado republicano do estado de Ohio; e de Michael Shellenberger, um dos autores do Twitter Files, investigações que mostraram intervenções para censurar conteúdos na rede social. Desde 27 de julho, Jordan publica as descobertas no X (anteriormente chamado de Twitter).

Facebook Files entregam mentiras do FBI sobre laptop de Hunter Biden para suprimir conteúdo nas redes sociais

Para facilitar o entendimento, condensamos em uma linha do tempo os acontecimentos do Facebook Files com base nas postagens do deputado Jordan.

Facebook Files confirmam mentira do FBI e revelam troca de favores entre rede social e governo

Imagem: Noah Wulf, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

  • 14/10/2020: representantes do Facebook se reúnem com agente Elvis Chan, “o principal canal entre a Força-Tarefa de Influência Estrangeira do FBI” e a empresa de Zuckerberg;
  • New York Post publica no mesmo dia a primeira matéria sobre o caso do laptop — Chan disse que não iria comentar sobre o tema.
  • Um testemunho da atual Chefe de Seção da Força-Tarefa de Influência Estrangeira do FBI, Laura Dehmlow, revela que a agência “reteve deliberadamente informações críticas sobre o laptop de Hunter Biden das empresas de mídia social” naquele momento. De forma exclusiva, ela ainda afirmou que o FBI tinha também se encontrado com representantes do Twitter, antes de se reunir com o Facebook.
  • Nesse momento, quando executivos do Twitter questionaram sobre a existência do laptop, “um agente do FBI disse ‘sim’. No entanto, um segundo agente do FBI – um advogado – interveio, interrompeu-o e disse: ‘sem mais comentários”
  • Após o ocorrido, a agência decidiu em reuniões internas que, a partir daquele momento, todas as respostas sobre o tema seriam “sem comentários”, de acordo com Dehmlow. Exatamente como dito ao Facebook na reunião seguinte com Chan.

Em uma postagem, Jordan argumenta que, apesar da resposta, Dehmlow quanto Chan, além de outros agentes, sabiam da existência do laptop e que ele estava sob poder do FBI. Por consequência dessa omissão a três semanas das eleições presidenciais, a maioria dos norte-americanos desconhecia ou acreditava ser uma campanha de desinformação orquestrada pela Rússia. “Sabemos o que aconteceu a seguir. Twitter e Facebook censuraram a reportagem do @nypost [New York Post]. A campanha de Biden secretamente desencadeou os eventos que levaram os 51 ex-funcionários da inteligência a desacreditar a história como desinformação russa”, escreveu o deputado.

  • Novembro de 2022: Chan é chamado a depor como uma das principais testemunhas no caso Missouri x Biden. No depoimento, ele nega que o FBI tivesse tratado sobre o laptop com as redes sociais além da reunião com o Facebook em 14 de outubro do mesmo ano. No entanto, omitiu a reunião com o Twitter e uma chamada para acompanhamento do caso com o Facebook, realizada no dia seguinte.
  • Chan também negou ter qualquer informação sobre o caso à época, embora Dehmlow tenha afirmado o contrário em depoimentos. No mesmo sentido, documentos internos do Facebook alegam que o agente “estava atualizado sobre o estado atual do assunto dentro do FBI”. Em outra declaração, Chan teria afirmado que “não havia nenhuma evidência atual para sugerir qualquer conexão estrangeira… dos vazamentos”.
  • 4 de julho de 2023: o agente emite uma liminar proibindo a comunicação sobre moderação de conteúdo entre autoridades da Casa Branca e representantes de empresas da Big Tech.

Troca de favores entre Facebook e Casa Branca

Sob alegações de que o tema seria uma ação de atores russos para intervir nos resultados das eleições dos Estados Unidos — narrativa já conhecida e reproduzida inúmeras vezes pela inteligência norte-americana—, o assunto foi largamente censurado pelas redes sociais.

De acordo com o conteúdo dos e-mails divulgados recentemente, os “executivos do Facebook sentiram pressão para cumprir as exigências da Casa Branca, a fim de resolver uma proibição da União Europeia à capacidade da empresa de mídia social de transferir os dados de usuários europeus para seus servidores nos Estados Unidos”, apontou uma postagem de Shellenberger.

Com a proibição da transferência transatlântica de dados de usuários europeus da rede social aos servidores nos EUA, além das sucessivas multas bilionárias e ordens para cessar de imediato o envio dos dados, a “série de eventos sugere um quid pro quo [uma troca]. O Facebook se curvaria aos pedidos de censura da Casa Branca em troca de sua ajuda com a União Europeia”, argumentou Shellenberger.

Em julho de 2021, um e-mail de Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais e comunicações do Facebook, pedia aos colegas que obedecessem os reiterados pedidos de censura de informações sobre a origem da Covid-19, efeitos colaterais da vacina, além daquelas contrárias ao próprio governo. A justificativa era o “peixe maior que temos que fritar com a Administração – fluxos de dados, etc…”.

A contenção ao fluxo transatlântico de dados era uma “ameaça ainda mais urgente para os negócios do Facebook”, defende o autor do Twitter Files — a venda de anúncios na Europa representa 10% do total de publicidade da rede, um lucro considerável de US$ 1,2 bilhão.

Embora sob duras críticas de grupos de privacidade, os líderes da União Europeia aprovaram o acordo para permitir às empresas de tecnologia tratarem dados de cidadãos europeus em servidores nos EUA. “Embora esteja claro o que o Facebook e a Casa Branca ganharam com o quid pro quo secreto, o que a Europa ganhou?”, questiona Shellenberger.

Ao comentar o caso, Philip Hamburger, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Columbia, disse que a medida foi uma violação grosseira à Primeira Emenda da Constituição norte-americana, a qual garante a liberdade de expressão no país. “Não apenas porque envolve o que a Suprema Corte considera ‘coerção’, mas também porque é igualmente inconstitucional o governo buscar censura por meio de contrato ou conspiração. E foi isso que aconteceu aqui”, disse o professor.

 

Com informações Gazeta do Povo

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