[Preview] ‘SYNCED’ pode revitalizar shooters online com ação engajante e conteúdo gratuito
Jogo de tiro da Tencent foi testado pela nossa equipe, que constatou: quando chegar em 2023, ‘SYNCED’ vai conquistar bastante genteBy - Rafael Arbulu, 4 agosto 2023 às 13:37
A equipe do blog KaBuM! teve a oportunidade de testar SYNCED, o jogo de tiro online da Tencent (por meio do seu estúdio NExT e da publisher Level Infinite), a convite da empresa e, em uma sessão de duas horas onde experimentamos alguns modos específicos de jogo e nos familiarizamos com o gameplay, devemos dizer logo de cara: fomos surpreendidos.
Anunciado já há algum tempo, somos forçados a admitir que, à primeira vista, SYNCED nos pareceu ser apenas mais um shooter genérico com capacidades online: você tem o seu personagem, exibido em terceira pessoa, recursos auxiliares de combate e modos de jogo PVP (indisponível na build que testamos, para a sorte do Eloi do NerdBunker e do Munhoz do Flow Games), solo (um jogador) e PVE (equipe de jogadores contra inimigos do computador). Felizmente, “pagamos a língua”, como diz a expressão. Mesmo com as inconsistências de uma versão ainda em desenvolvimento, nós saímos de lá com uma impressão bastante positiva. Veja alguns detalhes abaixo:
Contexto futurista de SYNCED traz consistência à jogabilidade
SYNCED se apresenta como um mundo pós-apocalíptico onde um cataclisma causado pela humanidade fez com que a nanotecnologia ganhasse consciência, saísse do nosso controle e se voltasse contra nós.
Naturalmente, ambientado no futuro, o que vemos no jogo é um cenário constantemente “quebrado” com ruas em ruínas e instalações de alta tecnologia aparentemente abandonadas e sujas (rodando a 120 fps no mínimo, até isso fica lindão, vale citar: nossa build rodou em máquinas Alienware Aurora equipadas com placas de vídeo GeForce RTX 4070 Ti da NVIDIA, mas a ideia é que o jogo sirva para diversas configurações intermediárias também).
Isso pode ser facilmente dito de uma centena de jogos, se não mais. Mas em SYNCED, o contexto é importante: pelo cânone do jogo, os inimigos ganham forma como oponentes de alta tecnologia que surgem do nada, se mesclando ao ambiente não apenas em cores e visuais, mas também em interação: a inteligência artificial (IA) do jogo faz com que inimigos menores – os mais ‘burrinhos’ – caiam em armadilhas simples que você arma, desde esconder-se atrás de destroços até direcioná-los a áreas de efeito comum, como explosões e afins.
Isso serve como uma introdução à curva de dificuldade do jogo: quando devidamente introduzidos, os oponentes intermediários e os chefões dos níveis mostram o combate real, transpondo obstáculos ou mesmo se armando em “arapucas” para mudar o tom da partida. Você vê muito disso em jogos AAA comuns, mas nem tanto em shooters online, um gênero que tende a valorizar mais a quantidade de inimigos na tela do que as capacidades de combate deles.
Inimigos via…bluetooth?
Os inimigos são relativamente fáceis de se entender: chamados “nanos”, eles são basicamente construtos robóticos de várias capacidades simbolizando “classes” de luta já conhecidas de outros jogos – você tem o “Tanque” (“Guardião”), que aguenta muito tiro e é bem chato de derrubar, uma unidade de infiltração (o “Batedor”) que marca oponentes na tela e oferece suporte básico.
Também temos o “gigantão porradeiro” (palavras da Tencent, vale citar, para o “Esmagador”), um bichão enorme para ataque massivo de área que atinge vários inimigos e uma área, e uma unidade mais generalista (“Supressor”), que ataca e defende sem muita excelência, mas que atende a várias demandas ao mesmo tempo e distrai oponentes para que você tome ações mais evidentes..
Inicialmente, o seu personagem – um humano – começa do jeito mais básico: armamento próprio, itens de suporte e a sua energia vital. Ao encontrar o seu primeiro “nano” que corresponde a qualquer uma das características acima, no entanto, você o “tomba” com tiros, deixando-o enfraquecido e pronto para ser “sincronizado”. Na prática: você insere uma lâmina de leitura de dados nele para que, essencialmente, ele se converta para o seu lado, como um companheiro de combate controlado pela IA.
Imagine que você está tentando conectar seu Galaxy Watch ao seu celular, com a diferença de que a animação do jogo indica que você faz isso fisicamente (e, claro, que seu “celular” é um monstro de dois metros de altura armado até os dentes).
Aqui é que fica o destaque de SYNCED: os robôs, uma vez companheiros, ampliam a sua gama de habilidades em tempo real durante a partida, mas não de maneira “fixa”. Explicando: com um comando simples no teclado/joystick, você consegue “enviar” ou “recolher” seu “nano” – e isso é indicativo de quais habilidades você tem disponíveis naquele momento.
Para ficar fácil de entender: imagine que você tem o “porradeiro” acima como o seu nano na partida. Ao enviá-lo, você obviamente tem a seu serviço um robozão superpoderoso que pode limpar uma área de inimigos menores sem grandes dificuldades. Ao recolhê-lo, você perde essa capacidade de dano massificado, mas suas armas recebem um bônus de ataque passivo para, digamos, causar mais estrago em momentos em que você tem apenas um chefão na tela.
Essa capacidade de sincronizar-se com exemplares inimigos tem uma multitude de utilidades. Em nossa seção, todos os chefões que enfrentamos traziam consigo grupos de inimigos menores, forçando você a se defender em dois “fronts”: ou você concentrava tiros no big boss da área, ou fugia das investidas dele enquanto tentava “limpar” a área de seus comandados que se aproximavam.
Com um nano sincronizado, você consegue – até certo ponto – dividir esses esforços: seus companheiros podem distrair o chefão enquanto você derruba os menores, ou vice-versa.
Aqui, fica um elogio forte à IA do jogo: SYNCED demonstra uma capacidade analítica bem interessante, onde seu nano companheiro identifica ameaças de forma eficiente – não é um ataque aleatório, existe um senso estratégico. Isso se mostra timidamente no começo, com o nano priorizando oponentes que estão mais próximos a ele. Mas rapidamente a coisa dá um salto onde, sozinho, ele se esquiva, se cobre e ataca de forma precisa. Até há um comando específico para direcionar seu companheiro aqui ou ali, mas honestamente, nós quase não o usamos.
Nem tudo é “robô”
Apesar de constituir uma grande parte – ao ponto de remeter, literalmente, ao nome do jogo – a sincronização com os robôs é apenas uma habilidade de seu personagem humano. Apelidados “Velocistas” (ou “Runners”, no inglês), eles ditam o ritmo do combate não só com poder de fogo (portando até três armas, sendo duas longas e uma menor, além de um “extra” para golpes físicos), mas também com habilidades distintas.
Em nossa build, nós contávamos com “quase” tudo destravado, então brincamos com bastante coisa. Essencialmente, no entanto, tivemos acesso a seis personagens:
- Cascata: possivelmente o mais genérico de todos, ele traz habilidades arrojadas de ataque e defesa, além de acesso a granadas de fogo que causam dano constante em uma pequena área
- Glory: outra personagem que pode entrar na seara do “mestra em nada, útil em tudo”, Glory vem com uma bomba de fumaça que não apenas facilita a sua escapada, mas envenena inimigos
- Dr. Stone: o dono do sotaque britânico mais irritante dos videogames é o curandeiro principal, criando uma aura medicinal que rejuvenesce sua energia vital e livra personagens de status negativos
- Ragna: a “nanoenferma” do grupo é praticamente resumida a força de ataque, mas sua habilidade é mais voltada ao suporte, permitindo que seu time enxergue oponentes através de paredes e facilite a implementação de estratégias
- Park: o “caubói coreano”, honestamente, foi o que menos curtimos. A única coisa que dele que salta aos olhos, ironicamente, é a sua habilidade secundária (“Bola Saltitante” e sim, é sério), que essencialmente é uma granada que fere todos os inimigos em sua proximidade
- Layla: a infiltradora do jogo, Layla tem por capacidade tornar-se invisível no campo de batalha, se aproximando de inimigos sem ser notada ou fugindo de situações problemáticas sem muita perseguição
Ao apresentar os personagens, é fácil cair na armadilha de pensar que eles têm atribuições específicas, mas não é bem esse o caso: salvo por suas habilidades secundárias – que são fixas – você pode usar qualquer Velocista da forma que desejar. Layla, por exemplo, passa ares de franco-atiradora, mas em uma partida, nós a usamos muito bem como uma ferramenta de assalto, acionando a invisibilidade e armando-a com uma escopeta – imagine a sua cara se você percebesse que levou um “tiro de 12” entre os olhos, vindo de alguém que, um segundo atrás, não estava ali.
Na prática: menos Overwatch, mais Fortnite.
Todos os personagens têm skins exclusivas separadas por tiers coloridos que denunciam sua raridade – obviamente, aqui entram as microtransações de SYNCED mas, felizmente, o jogo não é “pague-para-vencer” e todos os itens “compráveis” com dinheiro real são apenas cosméticos.
É jogo online com historinha – e das boas
Há anos, quando DOOM Eternal foi lançado, uma das coisas que surpreendeu a comunidade foi o fato da id Software ter inserido um pano de fundo tão denso e detalhado em um jogo que se resume, essencialmente, em “eu vi um demônio, eu atirei no demônio”.
SYNCED traz uma sensação familiar: os detalhes mais precisos do enredo do jogo foram propositalmente omitidos pela Tencent, mas o chefe de comunicações da empresa para a América Latina, Fábio Santana, assegurou que a “lore” do título não é só “grande”, mas também orgânica, sendo entregue em partes conforme você evolui na partida.
Isso até pode ser visto nas partidas PVE, mas é mais evidente nos modos solo. Pelo cenário e até mesmo no lobby de jogadores, há vários itens colecionáveis (“fragmentos de memória”, na terminologia do jogo) – esses contam a progressão dos eventos que levaram à situação atual da humanidade, em formato de pílulas que estabelecem um contexto temporal interessante: ao invés de “jogar” o enredo na sua cara, a entrega seccionada serve para deixar os fãs de uma boa narrativa mais e mais curiosos.
Sem muitos spoilers, podemos dizer que a culpa é de uma empresa chamada Shinar, que desenvolveu a tecnologia por trás dos nanos, que eventualmente ganharam senciência, escaparam de suas contenções e…bom, o resto você consegue adivinhar se gosta de dar risadas com as teorias de conspiração de algumas pessoas sobre tecnologias como o ChatGPT.
Já vimos exemplos variados do tipo mas, talvez, o melhor que se encaixe em tom comparativo aqui é Horizon Zero Dawn e sua sequência, Forbidden West. Essencialmente, alguém muito ganancioso foi longe demais com algo que não deveria, e a humanidade foi para o vinagre por causa disso.
Mas e aí, vai vingar?
Considerando o que temos planejado para esse segundo semestre, é difícil dizer se SYNCED terá o sucesso que a Tencent almeja para o jogo. Convenhamos, já não bastasse a presença megalomaníaca de Call of Duty, Fortnite, Overwatch e afins, com suas constantes atualizações e novos conteúdos, lançamentos recentes como Exoprimal e Rainbow Six Extraction deram um imenso crescimento ao setor de jogos de tiros online.
Frente à competição, SYNCED já começa em desvantagem: é uma propriedade intelectual nova, advinda de uma empresa que, por mais famosa que seja (hoje, a maior do mundo em mídia, aliás), ainda não é lá muito “comprovada” na produção própria de seus jogos.
Entretanto, existe um certo charme no jogo que nos faz querer continuar conectados: em nossa sessão, “é tipo Destiny, só que funcionando 100% do tempo” foi uma expressão repetida mais de uma vez. E a facilidade com que você entra na ação, sem muita enrolação, certamente é um atrativo.
Para “prender” o jogador, SYNCED tem vários recursos óbvios. Mas o desafio dele será fazer alguém começar a primeira partida. O fato de ele ser gratuito para jogar certamente é um ponto a favor. Fábio Santana também confessou que, embora não tenha uma data de lançamento mais fixa, o time de desenvolvimento já tem um roadmap de “pelo menos seis meses” de conteúdo pós-lançamento – em outras palavras, a Tencent quer atualizações constantes, logo, o risco desse jogo “cair no esquecimento” é baixo.
Nós curtimos e não foi pouco.
SYNCED será lançado para PlayStation 5, Xbox Series S/X e PC ainda em 2023.
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