Ex-Google alerta para impactos devastadores da IA na sociedade humana em dois anos
"É o maior desafio que a humanidade vai encarar", afirma o especialistaBy - Liliane Nakagawa, 9 junho 2023 às 14:10
Após Geoffrey Hinton, mais um ex-Google faz coro aos impactos catastróficos à humanidade causada pela inteligência artificial (IA). Mo Gawdat, empreendedor egípcio e autor do livro ‘Scary Smart: The Future of Artificial Intelligence and How You Can Save Our World’ [‘Assustadoramente Inteligente: O Futuro da Inteligência Artificial e Como Você Pode Salvar Nosso Mundo’, em tradução livre] advertiu sobre os perigos da tecnologia reforçadas pelo egoísmo humano e o que é preciso fazer agora para se evitar desastres que “estão logo ali”.
“Este é o maior desafio que a humanidade vai encarar, ela é maior que qualquer aspecto de mudança climática, maior que a ambição. Isso vai redefinir como o mundo é, sem formas precedentes pelos próximos anos — e não estamos falando de 2040, mas 2025 ou 2026.” — Mo Gawdat
Em entrevista ao canal do YouTube The Diary of a CEO, o ex-líder da divisão Google [X] compartilhou preocupações urgentes a curto prazo muito bem especificadas: deepfakes e ferramentas que incentivam crimes cibernéticos, perda de emprego em massa impulsionada pela automação e outras crises perturbadoras que estão para acontecer nos próximos dois anos.
“Ela está além de uma emergência”, adverte Gawdat. “É a maior coisa que precisamos fazer hoje. É maior do que a mudança climática, acredite ou não.”
“A probabilidade de que algo incrivelmente perturbador aconteça nos próximos dois anos e que possa afetar o planeta inteiro é definitivamente maior com a IA do que com as mudanças climáticas”, acrescentou ele.
Para fins de contexto, a comparação com mudanças climáticas pode não representar nada preocupante para alguns. No entanto, vale ressaltar que o aumento de incêndios, inundações, secas, tempestades agravadas, temperaturas altas recordes já perturbam diversos lugares e civilizações em todo mundo.
Humanos como “escória” e “máquinas para matar”
Os impactos da IA devastadores sobre a sociedade humana — leia-se efeitos negativos dela — citados por Gawdat, embora preocupantes e, de fato, mais próximos da nossa realidade, parecem não ter o mesmo aspecto sombrio das outras recentes afirmações do ex-Google.
Ao podcast Secret Leaders, ele disse que a probabilidade de a IA vir a considerar humanos como “escória” é “muito alta”, além de ela poder criar suas próprias “máquinas para matar”.
‘Governos precisam agir agora; estamos atrasados’
Embora o tempo que temos para agir e evitar os efeitos devastadores advertidos por Gawdat seja bastante curto, nem tudo está perdido — ainda. “Nós temos boas possibilidades de fazer o melhor, mas se nós não o fizermos, eu suponho que passaremos por um território desconhecido a partir de agora até o fim de 2030”, diz ele.
Com “território desconhecido”, Gawdat se refere à mudança drástica do nosso modo de vida, como nós a conhecemos, que deve acabar. “É o fim da linha”, diz ele. “O nosso modo de vida nunca mais vai ser o mesmo novamente. O trabalho vai ser diferente. A verdade vai ser diferente. A polarização de poder vai ser diferente. A capacidade, a magia de fazer as coisas acontecerem, vai ser diferente.”
“Minha previsão é de que nós vamos para um lugar que nós realmente temos senso de emergência de se engajar, porque o nosso mundo estará sob um grande tumulto”, descreve Gawdat.
Embora estejamos atrasados para fazer algo a respeito, é preciso começar as negociações de algum ponto. E Gawdat tem um caminho de onde poderemos partir.
Muito favorável à regulamentação governamental da tecnologia, o especialista em IA propõe como ideia de mitigação a cobrança de taxas sobre as empresas movidas pela tecnologia.
“Tenho um pedido muito claro de ação para os governos. Estou dizendo para tributar as empresas movidas a IA em 98% para que, de repente, você faça o que a carta aberta estava tentando fazer, desacelerá-las um pouco e, ao mesmo tempo, conseguir dinheiro suficiente para pagar por todas as pessoas que serão prejudicadas pela tecnologia”, sugere o ex-CBO do Google.
Para Gawdat, o engajamento social também é parte essencial desse processo, e contar ao mundo quais são as nossas reais necessidades fará diferença.
Um novo modelo de celular que leva mais dinheiro ao mundo corporativo ou uma IA que fará alguém mais rico: nada disso é o que necessitamos, diz ele, “e se você for apresentado a um desses, não use”.
“Estamos clamando e gritando, falando ao mundo abertamente que isso precisa parar, ir mais devagar, que precisa ser mudado positivamente para criar uma IA que seja boa para a humanidade, e convidamos você a fazer o mesmo.”, recomenda Gawdat.
Com informações The Diary of a CEO e Futurism
A tecnologia está colocando nossa humanidade em risco em um grau sem precedentes. Este livro não é para os engenheiros que escrevem o código ou para os formuladores de políticas que afirmam poder regulamentá-lo. Este livro é para você. Porque, acredite ou não, você é o único que pode resolver o problema. – Mo Gawdat
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