[Review] Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon é um encantador ‘conto de bruxas’
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon encanta com um lindo visual de “gráficos em aquarela”, mecânicas complexas e interessantes e ótimo game designBy - Jessica Pinheiro, 17 abril 2023 às 18:24
O derivado Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon é, tranquilamente, um dos games mais bonitos que tive a oportunidade de jogar em 2023. O jogo encanta por meio de uma série de elementos técnicos e narrativos, e pode ser uma ótima porta de entrada para quem quer conhecer melhor o universo de Bayonetta.
De forma geral, Cereza and the Lost Demon já apresenta um misticismo até mesmo por trás de seu anúncio: o game ganhou, a princípio, uma demonstração escondida dentro de Bayonetta 3 (e posteriormente, a versão de testes foi lançada de forma independente na eShop), mas só durante o evento The Game Awards 2022 é que o título foi oficialmente revelado.
Uma linda passarela de aquarela
O visual de Cereza and the Lost Demon é claramente inspirado em contos de fadas — ou, neste caso, de bruxas. Aqui, a arte impressa em livros desse gênero é convertida em gráficos que parecem ter sido pintados a mão, com efeitos e cores belíssimos em aquarela, além de contar com uma estilização mais cartunesca para seus personagens (contrastando completamente com o estilo realista dos três jogos numerados anteriores).
As cinemáticas, inclusive, são reproduzidas com efeitos que simulam páginas impressas de uma obra de fantasia, em meio a ilustrações e narrações. O estúdio PlatinumGames conseguiu com maestria atingir a sensação de que você está, de fato, interagindo com um livro ilustrado.
Não bastasse impressionar com seus gráficos, a jornada em Cereza and the Lost Demon também é acompanhada por uma trilha sonora imersiva, digna de histórias macabras de fantasia, que geralmente são protagonizadas por crianças.
A borboleta e o gato
Por falar em crianças, Cereza and the Lost Demon é estrelado por duas figuras marcantes. Uma delas é a jovem Cereza, uma bruxa em treinamento e que, portanto, está longe de se tornar a mulher poderosa e estilosa dos demais jogos — por isso, ela ainda não adquiriu o título de Bayonetta. O outro é o demônio Cheshire, que foi invocado pela garota, mas acabou sendo aprisionado em seu gato de pelúcia.
A relação entre Cereza e Cheshire é simplesmente adorável. Apesar de ambos se portarem como duas crianças (o que eles são, literalmente), é justamente por meio de suas diferenças que eles tiram forças um do outro para continuar. A confiança entre eles também cresce de maneira orgânica, com interações e animações que sutilmente demonstram isso.
Um bom exemplo é quando Cereza alimenta Cheshire com cristais chamados Avalon Drops, um recurso que possibilita o aprendizado de novas habilidades. De início, o demônio em forma de gato é muito bruto e impaciente, mas conforme o progresso da história, ele começa a se comportar melhor durante essas breves animações.
Essa construção do relacionamento entre Cereza e Cheshire torna a aventura ainda mais especial, inclusive porque o jogador precisa aprender a controlar ambos os personagens ao mesmo tempo, se quiser sobreviver na imensa e mágica Avalon Forest.
Mecânicas complexas, mas muito interessantes
Muitas vezes, controlar Cereza e Cheshire ao mesmo tempo no JoyCon ou Pro Controller do Nintendo Switch, pode causar uma pane no cérebro. Afinal, todos os comandos do lado esquerdo são dedicados à bruxa, enquanto os botões do lado direito são voltados para o gato demônio.
O trabalho de experiência do usuário também precisa ser exaltado, pois ambos os protagonistas recebem destaque equivalente, e isso vai desde a distribuição dos comandos, passando pelos ícones na tela e pela divisão visual do inventário, até o enquadramento dos personagens, que mostra os dois sempre em evidência e próximos um do outro.
Ambos também contribuem igualmente durante os combates: Cereza, que ainda está em treinamento, consegue prender os inimigos em espinhos infernais (e até envenená-los, caso você desbloqueie essa habilidade), enquanto Cheshire parte para a força bruta, atacando com garras e saltos.
Já durante a exploração, Cereza realiza delicados passos de balé para ativar sua magia e conseguir, muitas vezes, abrir caminho ou desbloquear itens e recompensas, por meio de eventos interativos rápidos (quick time events, abreviados como QTEs), feitos com o direcional esquerdo.
Por sua vez, Cheshire pode alcançar lugares mais altos em sua forma natural e, conforme o progresso da aventura, adquire novos poderes e formas elementais, cada qual com sua peculiaridade. Inclusive, tanto o gato quanto a bruxa podem ganhar ainda mais técnicas através da árvore de habilidades, e as técnicas são liberadas com Avalon Drops, Onyx Roses, Inferno Fruits e Moon Pearls.
Game design inteligente
Por último, mas não menos importante, o jogo conta com muitos e diferentes tipos de quebra-cabeças. Além dos enigmas comuns, desvendados por meio de exploração e desbloqueio de novas habilidades, existe uma realidade chamada Tír Na Nóg, onde é preciso solucionar mistérios e vencer batalhas.
Os portais para o Tír Na Nóg são encontrados constantemente durante a jornada e são desafios que oferecem ótimas recompensas. Geralmente, não são difíceis, mas vez ou outra, apresentam batalhas um pouco mais desafiadoras — em especial as que tem tempo limite.
Tanto o design do Tír Na Nóg quanto do mapa geral é bastante eficiente, com desafios de obstáculo muito eficientes e atalhos que podem ser constantemente desbloqueados ao longo da floresta.
O ritmo de progressão de Cereza and the Lost Demon, por sinal, é muito consistente: o jogo apresenta novos personagens, áreas, poderes e informações da narrativa que mantém o jogador intrigado e instigado a investigar e solucionar todos os desafios e mistérios, além de resgatar todos os pequenos e indefesos Wisps.
Os inimigos, que aqui são Faeries, possuem uma moderada quantidade de variações, e quando surgem em bandos, podem apresentar um desafio um pouquinho maior para o jogador. Ainda assim, de forma geral, o game é bastante equilibrado (diria até que é fácil) em termos de dificuldade.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon vale a pena?
Pessoalmente, eu recomendaria Cereza and the Lost Demon para quem deseja conhecer o universo de Bayonetta, pois o jogo é lindo e uma ótima porta de entrada para a franquia. Também pode servir os jogadores veteranos que desejam se aprofundar mais na mitologia da protagonista do terceiro jogo numerado e alguns de seus personagens de apoio.
Em contrapartida, esqueça este novo título caso você espere ação frenética, gráficos realistas e uma Bayonetta crescida e completamente independente. Cereza and the Lost Demon é um derivado com uma proposta completamente diferente, e que executa brilhantemente tudo que se propõe.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon está disponível para Nintendo Switch. O jogo foi analisado por meio de uma cópia antecipada fornecida pela Nintendo.
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