Nos últimos meses não faltaram artigos, reportagens e conteúdos diversos que explicavam as características e, claro, as vantagens do metaverso, a nova mina de ouro dos negócios digitais. Eu mesma escrevi diversos textos pontuando a necessidade de empresas e profissionais se prepararem para este ambiente híbrido, nos quais os mundos on e off-line se interagem e criam uma experiência cada vez mais imersiva e única – e ainda acredito que esse conceito vai promover uma verdadeira revolução na forma como enxergamos a própria tecnologia.

Entretanto, passado o primeiro trimestre de 2023, observamos uma onda de demissões nas big techs (incluindo a Meta, ex-Facebook, que até mudou de nome para surfar nessa nova onda), o redirecionamento de investimentos em projetos que contemplam inteligência artificial (como o ChatGPT) e uma crise sem precedentes envolvendo a quebra do Silicon Valley Bank que assustou investidores em todo o mundo.

O metaverso ainda não levantou voo (ainda)

Imagem: leungchopan/Shutterstock.com

Diante disso, vale a pena questionar: por que o metaverso não conseguiu atingir a expectativa gerada nos últimos tempos?

Uma rápida pesquisa no Google Trends já mostra que a expressão “metaverso” como termo de pesquisa atingiu neste ano seu pico mais baixo desde que ganhou os holofotes com a mudança do Facebook para Meta em outubro de 2021. Aqui no Brasil, por exemplo, até mesmo a Geração Z, que em tese possui mais familiaridade com a proposta, considera como uma “promessa distante”. Praticamente dois em cada dez brasileiros desta faixa etária (19%) não acreditam que serão impactados pelo metaverso – e outros 35% creem que serão em partes, segundo levantamento do Grupo Consumoteca.

Mesmo assim, não faltam pesquisas recentes que indicam um otimismo da economia e da sociedade em torno deste conceito nos próximos anos. Para o Gartner, a cada quatro pessoas, uma vai passar uma hora diária no metaverso até 2026. A consultoria McKinsey, mais conservadora, cita um valor de mercado de US$ 5 trilhões até 2030. A PwC, mais ousada, estima entre US$ 8 e US$ 13 trilhões no mesmo período.

Diante deste paradoxo, que se equilibra entre a desconfiança de muitas pessoas e a euforia de quem trabalha na área, é necessário entender as causas que fizeram o metaverso não explodir como deveria neste início de 2023.  Ao compreendê-las, será possível corrigir a rota no futuro e, claro, nos prepararmos adequadamente para o que vem por aí. Confira:

1 – Demos um passo maior com a perna em relação à tecnologia

Sim, temos que admitir isso: nossas expectativas eram bem maiores do que a capacidade de entrega deste conceito. Sim, o metaverso existe em situações aqui e ali, principalmente no universo dos jogos eletrônicos, mas ainda não tem força para atuar em larga escala – principalmente quando falamos de acesso à tecnologia.

O 5G por exemplo (vital para a consolidação do metaverso) só existe em algumas capitais. A previsão mais otimista indicava que apenas em 2029 todo o país teria acesso a esse tipo de conexão. Para variar, o custo de alguns hardwares, como os óculos de realidade virtual, ainda atende a uma pequena parcela da população. Logo, é inviável imaginar que o metaverso vai se consolidar em pouquíssimo tempo.

2 – A evolução tecnológica acontece em várias frentes

Metaverso segue como uma das principais tendências da área de tecnologia, mas a evolução e, evidentemente, o investimento não ocorrem de forma maciça em um tópico ou outro. Há diversos assuntos e temas que as organizações precisam concentrar seus esforços (financeiros e de pessoal) para terem o melhor resultado possível em relação ao mundo digital. Cloud, proteção de dados, software, hardware, entre outros, são apenas alguns exemplos disso.

Em suma: não dá para concentrar toda a atenção no metaverso e esquecer do resto. O avanço do ChatGPT está aí para provar: a inteligência artificial é uma área que consegue evoluir constantemente, oferecendo soluções para diversos problemas reais de profissionais e corporações. Quanto ao metaverso, quando todas as áreas envolvidas amadurecerem naturalmente, ele estará pronto para desabrochar.

3 – Dúvidas são maiores do que clarezas no momento

Por fim, também não ficou claro na prática quais as vantagens e a forma como o próprio metaverso poderia se desenvolver. Ok, marcas fizeram ações pontuais e a promessa teórica era de uma capacidade imersiva total, permitindo integrar o online com o offline. Mas como isso aconteceria? Com o avatar? Tokens? Acesso em páginas?

Metaverso

Imagem: chayanuphol/Shutterstock.com

O fato é que diante de um cenário de instabilidade econômica como a que vivemos atualmente nos negócios digitais (não só no Brasil, mas em todo o mundo), é melhor aguardar e ter certeza do que esse conceito pode entregar do que realmente investir no escuro em cima de promessas. É uma reação natural do mercado para evitar perda financeira.

Metaverso é só uma questão de tempo e paciência

Isso significa que o metaverso é um assunto coadjuvante ou que merece ser esquecido no mundo da tecnologia? Pelo contrário! Eu realmente acredito que se trata de algo que vai mudar a forma como encaramos as soluções digitais e, claro, nossa própria vida. Se esse tema não estourou na velocidade que prometia, ainda assim é só questão de tempo para que volte aos holofotes cada vez mais forte e importante.

Dois motivos principais me fazem crer nessa retomada no futuro. O primeiro deles é o próprio amadurecimento de demais tecnologias que integram o metaverso. Hoje, ontem era criptoativos, hoje criptomoedas. Em algum momento no futuro todas estarão maduras a ponto de se convergirem para esse ambiente imersivo. A segunda questão é o próprio conhecimento digital de jovens que começam a entrar em diversos setores da sociedade, levando à utilização de novas soluções e tendências. O interesse vai puxar a necessidade – e vice-versa.

Pode ser muito cedo para imaginar uma reunião de trabalho feita apenas com avatares ou compras em vitrines totalmente digitais. Mas a história não para, o mundo gira e a única certeza da tecnologia é que está em plena evolução e desenvolvimento – e o metaverso faz parte de toda esta engrenagem.

 

Alessandra MontiniAlessandra Montini é diretora do LabData da FIA – Laboratório de Análise de Dados; consultora em Projetos de Big Data e Inteligência Artificial, Professora de Big Data; Inteligência Artificial e Analytics; professora da Área de Métodos Quantitativos e Informática da FEA; Coordenadora do Grupo de Pesquisa do CNPQ: Núcleo de Estudo de Modelos Econométricos e Núcleo de Estudo de Big Data; e parecerista do CNPQ e da Fapesp.

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