[Review] Hi-Fi RUSH mistura música, amizade e ação com uma pitada de consciência de classe
Lançado de surpresa, Hi-Fi RUSH impressiona ao misturar elementos de gameplay com ritmo e ação, animação impecável e uma narrativa que aborda exploração trabalhista, monopólio tecnológico e livre arbítrioBy - Jessica Pinheiro, 24 fevereiro 2023 às 19:37
O evento Developer_Direct de Xbox & Bethesda, apresentado há um mês, trouxe uma das maiores surpresas que os gamers puderam presenciar em muito tempo: a revelação e o lançamento surpresa de Hi-Fi RUSH, novo jogo do estúdio Tango Gameworks e publicado pela Bethesda Softworks.
Depois de lançar as primeiras impressões sobre o game, é chegado o momento de uma análise completa, após ter finalizado o game — que conta com mais ou menos 12 horas de duração, sem contar os extras e conteúdo pós-término. Confira o review de Hi-Fi RUSH do blog KaBuM!!
A Batida Perfeita
Hi-Fi RUSH oferece um gameplay de ação mesclado a uma mecânica rítmica, o que significa que para se dar bem nas batalhas (e, opcionalmente, tirar uma boa pontuação ao final de cada segmento), você precisa se atentar às batidas da música e executar os combos conforme a melodia.
Claro que, como apontado, não é obrigatório tirar notas altas. Mas você vai se beneficiar com isso, pois recebe uma quantidade maior de engrenagens, as quais permitem comprar novos golpes, técnicas especiais, chips de habilidades passivas, melhorias, entre outros.
Além de bater, se defender e repelir os ataques dos inimigos robôs com sua guitarra feita de sucata, o protagonista Chai também usufrui de um gancho que o auxilia na exploração e nas batalhas, e pode invocar aliados para ajudá-lo pontualmente, seja abrindo passagem ou esmurrando os inimigos.
O game também abusa de eventos interativos rápidos (quick time events, recurso abreviado como QTE), que devem ser executados sempre seguindo a batida da música. Por fim, existem ainda técnicas especiais personalizáveis.
Isso significa que é você quem seleciona se quer ativar uma habilidade de ataque ou de auxílio, quando a barra de Reverb estiver cheia — eu, pessoalmente, usei uma técnica especial chamada “Revigorante” do início ao fim, pois me garantia mais energia quando o protagonista estava prestes a desmaiar.
A Trilha do Sucesso
Como já mencionado, Hi-Fi RUSH está intrinsecamente ligado à música, e não apenas por conta do gameplay e suas mecânicas, mas em praticamente todos os aspectos, incluindo no visual: os passos de Chai seguem as batidas das canções tocadas ao fundo, as máquinas e luzes (e outros detalhes) dos cenários reagem ao ritmo, e os ataques podem ser sincronizados com as melodias.
Para complementar, a trilha sonora do jogo é bastante cuidadosa em sua curadoria de canções licenciadas. A participação de bandas e artistas como The Black Keys, Nine Inch Nails, The Prodigy, Flaming Lips, Fiona Apple, Zwan (e mais), conta com músicas selecionadas para momentos-chave do game, com letras que conversam com a situação que está se desenrolando.
Ainda assim, as canções licenciadas em nada perdem para as composições originais da trilha sonora, assinadas por Shuichi Kobori, Reo Uratani e Masatoshi Yanagi. Todas as faixas se encaixam perfeitamente com as fases e eventos, e no mínimo, vão fazer você bater os pés enquanto joga.
Na realidade, toda a equipe de desenvolvimento se superou nos esforços de conectar diferentes elementos do game design, e eu diria que a trilha sonora talvez seja a principal responsável por aumentar ainda mais a imersão em Hi-Fi RUSH. Até porque, para além de todos os aspectos técnicos e de gameplay, a música também é uma parte essencial da narrativa do jogo.
No Ritmo do Coração
A história gira em torno de Chai, um jovem adulto que, inicialmente, possui uma deficiência em seu braço direito. Seu maior sonho é se tornar um astro do rock, e ele procura a megacorporação Vandelay Technologies para se voluntariar em um projeto chamado Armstrong.
O projeto visa substituir membros do corpo humano por implantes cibernéticos. Entretanto, Chai é designado, sem saber, para se tornar em um coletor de lixo e trabalhar no setor de gerenciamento de resíduos da empresa. Mas durante a cirurgia, o dispositivo de reprodução de música do protagonista (tipo um iPod), cai sobre seu peito.
Isso faz o aparelho ser literalmente incorporado em Chai durante o processo de substituição de seu braço. Contudo, é graças a isso que o protagonista ganha seu principal poder: uma espécie de conexão musical com o ambiente ao seu redor. Ao finalizar a cirurgia, porém, ele é rotulado como um defeito e, portanto, deve ser descartado.
Chai decide escapar da segurança robótica da Vandelay que o persegue, e no meio do caminho, conhece a gatinha robô 808. Ela é controlada pela misteriosa e astuta Peppermint, que decide ajudar o protagonista. Em troca, ela pede o auxílio dele em sua investigação a respeito do projeto Armstrong.
Não demora muito para que o trio (sim, estou contando a gatinha na equação) descubra sobre as verdadeiras intenções da Vandelay Technologies, e para deter a megacorporação em seu plano maléfico — que é realmente tenebroso —, eles decidem ir atrás das chaves de acesso que estão em posse dos executivos de alto escalão da empresa.
Ao longo do trajeto, Chai, Peppermint e 808 conhecem outros aliados (cada um possui uma mecânica distinta de gameplay e uma personalidade própria); e desvendam os segredos da Vandelay. Desde o início, a narrativa se desenrola de maneira muito interessante, prendendo a atenção do jogador com personagens extremamente carismáticos — incluindo os vilões —, e abordando temas densos como a exploração trabalhista, o monopólio tecnológico e o livre arbítrio.
A história guarda ainda surpresas e reviravoltas — algumas delas previsíveis —, mas como a diversão e o tom de humor predominam, é difícil largar o controle. Inclusive, Hi-Fi RUSH está 100% localizado em português-brasileiro, e a dublagem do jogo é um show a parte! Todas as piadas e sacadas foram muito bem adaptadas, as falas estão sincronizadas e o elenco conta com a participação de vozes conhecidas.
Tudo isso em meio a uma animação estilosa que ora referencia animes e ora lembra quadrinhos, e movimentações dinâmicas com transições espetaculares entre gameplay e cutscenes. Todos esses elementos combinados fazem o aspecto gráfico e visual de Hi-Fi RUSH ser impecável.
No Balanço do Amor
Eu poderia me alongar neste texto tecendo ainda mais elogios a Hi-Fi RUSH, mas acredito que deu para entender que, além de sua aparição ter sido uma surpresa, o jogo também impressiona em termos de apresentação, conteúdo, imersão, texto e interação. Além disso, as fases são diversificadas, e o jogo oferece desafio e uma ótima variedade de inimigos.
Minha única reclamação é referente ao tamanho das fases. No início, senti que elas são um pouco mais longas do que deveriam, mas essa impressão passou com pouco mais de três horas, quando o ritmo e a duração das fases começou a variar mais.
Além disso, Hi-Fi RUSH possui mistérios da história que só são desbloqueados após finalizar a campanha principal. Com isso, tem-se uma nova referência de conteúdo adicional no mercado, com objetivos bem definidos e motivações realmente relevantes para o jogador revisitar o jogo após terminá-lo.
Hi-Fi RUSH vale a pena?
Demais! É simplesmente uma das mais gratas surpresas do início de 2023 e fornece um entretenimento de muita qualidade. Dá pra sentir que o jogo foi feito com muito carinho e que os desenvolvedores se divertiram no processo.
Hi-Fi RUSH merece não apenas reconhecimento, como também prêmios — quando a temporada de premiações começar, é claro. E o melhor de tudo: o jogo está disponível no Xbox Game Pass para assinantes do serviço, o que o torna muito acessível.
Hi-Fi RUSH está disponível para PC (via Windows e Steam), Xbox Series X e Xbox Game Pass (computador e console). O game foi analisado em um Xbox Series X.
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