[Retrospectiva 2022] O ano que marcou uma nova era para os videogames portáteis
Com diversos lançamentos ao longo do ano, portáteis mostram um futuro promissor e potencial para rivalizar contra PCs e consoles de mesaBy - Igor Shimabukuro, 1 janeiro 2023 às 9:30
Já faz um tempo desde que smartphones, consoles e PCs — exatamente nesta ordem — se estabeleceram como os três principais pilares da indústria gamer. Mas em 2022, ano da tecnologia, da Copa do Mundo e dos foguetes de Elon Musk há uma velha plataforma que parece pronta para reviver os dias de glória e beliscar um espaço mais relevante no segmento de videogames: a dos portáteis.
Os mais novos talvez não se lembrem, mas os videogames de bolso já faziam sucesso na década de 70, com exemplares como Auto Race, da Mattel, e Microvision, da Milton Bradley Company. Nos anos seguintes, Nintendo, Lynx, Sega e NEC também desenvolveram seus próprios portáteis que marcaram época.
Graças à Big N, os portáteis também seguiram relevantes no começo dos anos 2000. Acontece que, por conta das limitações gráficas e de tecnologia, computadores e videogames consolidaram a dominância entre os gamers de carteirinha: um Game Boy Advance até era interessante, mas não mais que um PlayStation 2 da Sony, por exemplo.
Desde então, PCs, consoles e smartphones — que passaram a liderar o setor desde 2015 — são os primeiros termos relacionados quando videogame vira tema de pauta. Mas 2022 veio para mostrar que isso pode estar prestes a mudar nos próximos anos.
A volta dos que nunca foram embora
Para começo de conversa, vale novamente frisar: apesar de terem perdido espaço, os portáteis nunca sumiram 100% do mapa. O Game Boy Advance SP foi o último da linha GB lançado, mas Nintendo DS e 3DS deram andamento aos consoles de bolso da Nintendo em 2004 e 2011, respectivamente. Por falar em 2011, foi este o ano em que a Sony também deu uma espécie de sobrevida ao PSP ao lançar o PS Vita — apesar do projeto não ter sido bem sucedido.
Nos anos seguintes, os portáteis ganharam força principalmente por conta dos smartphones — que são mais populares que PCs ou videogames até os dias atuais. Fato é que de videogame mesmo, apenas o Nintendo Switch, lançado em março de 2017, manteve o segmento aquecido.
Mas com a chegada de 2022, os tempos mudaram. Ao longo de todo o ano, foram inúmeros anúncios de consoles de mão para a comunidade gamer. E teve dispositivo para todos os gostos: de variadas marcas, tecnologias, modelos e apelos.
O Steam Deck talvez seja o mais famoso dos anúncios. Projetado pela Valve (sim, a dona da Steam), ele vem com o SteamOS instalado e, equipado com uma super APU da AMD, é capaz de rodar jogos Triple A — como Elden Ring ou God of War (2018), por exemplo — a pelo menos 30 fps.
Um dos pontos positivos do portátil é que ele pode armazenar jogos em sua memória interna (de até 512 GB) ou mesmo rodar títulos em nuvem por meio do xCloud da Microsoft.
Outro handheld que ganhou destaque entre os portáteis foi o Razer Edge, lançado em conjunto por Razer (não diga), Verizon e Qualcomm. Os modelos Wi-Fi e Founders Edition já estão disponíveis no mercado, mas uma terceira versão, compatível com 5G, está programada para estrear em janeiro.
Sobre o dispositivo, vale destacar o chipset Snapdragon G3x Gen 1 da Qualcomm, a tela de 6.8” FHD+, além da capacidade de ser executado com o 5G e sem a necessidade de Wi-Fi — somente no modelo mais robusto. E caberá ao jogar optar por uma gameplay com os games armazenados no dispositivo ou por meio do acesso a títulos do Xbox Cloud Gaming ou Google Play/App Store.
A Logitech foi outra que decidiu surfar nessa maré. Neste ano, a empresa lançou o G Cloud Gaming Handheld, que trouxe um dispositivo equipado com o chipset Snapdragon 720G, 4 GB de RAM e 64 GB de armazenamento para gameplays na palma da mão — literalmente.
Assim como o Razer Edge, o console portátil da Logitech também dá acesso a Google Play Store, Xbox Cloud Gaming e GeForce Now. Mas como não há suporte para conexão 5G ou cartão SIM, todos os jogos devem ser rodados via Wi-Fi.
Pode até parecer que três lançamentos são poucos para justificar a reascensão dos videogames portáteis. Mas aí é que entram dois pontos. O primeiro é que o Nintendo Switch foi basicamente o único handheld grande dos últimos anos. Logo, quaisquer outras estreias seriam suficientes para atrair os olhos do mercado.
O segundo é que não foram apenas três lançamentos. Uma rápida busca em sites como AliExpress mostra como outras fabricantes menores também apostaram nos consoles de mão, a exemplo de Powkiddy X39, Ayaneo Air Pro, Miyoo Mini, entre outros.
E contra fatos (e números) não há argumentos.
Por trás do “boom” de portáteis em 2022
Parece claro que 2022 foi um ano totalmente especial para os portáteis. Mas tão importante quanto reconhecer isso é entender o motivo que levou os players da indústria a reaquecerem o setor — que por muito tempo ficou escoltado na sombra de PCs e consoles de mesa.
Não foi um evento específico que provocou este “boom”. Na verdade, uma série de fatores ocorridos ao longo dos últimos anos possibilitaram o desenvolvimento de novas tecnologias e a criação de novos consoles. E ao que parece, o fruto de todo esse trabalhou acabou desencadeando em 2022.
E para melhor análise destes tais fatores, o blog KaBuM! conversou com duas figuras com grandes conhecimentos do segmento: Carol Caravana, vice-presidente da Abragames, e Luciana Pucci, Marketing Manager Latam da Razer. Os detalhes do bate-papo você confere abaixo.
- Fator pandemia
Com as restrições de circulação durante a pandemia de Covid-19, muitos tiveram que encontrar formas de diversão dentro de suas próprias casas. E uma dessas formas foi justamente as jogatinas — não à toa, o valor de mercado global de jogos eletrônicos atingiu um pico de 178 bilhões em 2020, no primeiro ano da pandemia, segundo um levantamento da Newzoo.
E o que isso tem a ver? Tudo! Ao mesmo tempo que serviu de lazer para os quarentenados, o segmento de jogos também foi explorado pela indústria gamer.
No caso, competir com consoles next-gen como PlayStation 5 ou Xbox Series X|S poderia ser tarefa complicada demais. Contudo, o pouco explorado segmento de portáteis ganhou a atenção do mercado e serviu para que outros players da indústria apostassem em novos handhelds próprios.
- Falta de concorrência
Um segmento pouco explorado significa pouca concorrência. E pouca concorrência, querendo ou não, significa menos produtos no mercado. Consequentemente, a limitação de modelos (lê-se Nintendo Switch) estimulou a chegada de novos portáteis nas prateleiras.
“Sentimos que faltava no mercado um suporte a hardware de jogos dedicado e poderoso. Então decidimos trabalhar com a Qualcomm e a Verizon para reunir um dispositivo ultrapoderoso, especificamente otimizado para jogos móveis”, pontuou Luciana Pucci, Marketing Manager Latam da Razer, sobre o Razer Edge.
E o resultado disso tende a ser positivo. Afinal, quanto mais players em um segmento, mais usuários, mais investimentos e mais desenvolvimentos de games para consoles de mão. Quem ganha com tudo isso? A comunidade gamer, é claro.
- Tendência móvel em alta
A tendência de jogatinas móveis já é observada há algum tempo. E por mais que contasse com apenas um único grande representante, os portáteis fazem parte desse bolo. Mas se o Nintendo Switch conseguiu relevância mesmo disputando contra PlayStation ou Xbox, por que outros handhelds não conseguiriam?
Essa talvez tenha sido uma pergunta que rondou a cabeça de outras empresas. Mais que isso: aceitar o sucesso do Nintendo Switch pode ter sido o empurrãozinho que faltava para tirar o projeto do papel e entrar de cabeça no segmento.
“Acredito que o ‘boom’ de portáteis neste ano teve influência da consolidação do Nintendo Switch na comunidade gamer. As empresas enxergaram o sucesso que ele fez e perceberam que é um modelo interessante e lucrativo para os seus negócios”, destacou Carol Caravana.
Até porque não há motivos para não beber de uma fonte que comprovadamente foi bem aceita, certo? E para quem duvida, ultrapassar a marca de 114,3 milhões de unidades vendidas talvez seja uma boa prova.
- Aprimoramento de tecnologias
Por fim, há a inegável otimização de tecnologias. Por muito tempo, os portáteis foram subjulgados — e de certa forma justa — por serem compatíveis apenas com jogos mais simplistas, o que tornava o setor mais nichado. Mas como a modernidade líquida nos ensinou, tudo evoluiu e muda muito rápido.
E com este avanço, processadores, GPUs e APUs foram diminuindo de tamanho e tornando-se mais compatíveis com dispositivos menores. E tudo isso com uma tecnologia mais avançada que permitia rodar títulos mais pesados sem a necessidade de um console grande em cima da mesa.
Mas muito além disso, há também o fator streaming e o 5G. Competir com PCs de ponta e consoles next-gen pode ser uma briga injusta. Mas reproduzir jogos via nuvem diretamente da internet possibilitou que handhelds também pudessem rodar jogos Triple A em dispositivos menores, compactos e portáteis.
“A sinergia de todas essas tecnologias e o rico ecossistema gerado pelos jogos na nuvem, aplicativos nativos e jogos remotos estão ajudando para que o mercado de portáteis se prolifere cada vez mais rapidamente”, afirmou Pucci.
Caravana também aponta a importância dessas novas tecnologias para o setor de consoles de mão, mas reforça uma atenção extra para as operações.
“Não conseguimos falar de consoles portáteis sem falar da chegada do 5G. Ele vai alterar a forma com que as pessoas jogam atualmente, no Brasil e no mundo. É necessário, contudo, ver como a situação vai acontecer na prática, por conta da latência e custo de operação”.
O futuro também será portátil
E para os que ainda não se convenceram do potencial subestimado dos portáteis, fica aqui o aviso: a ascensão dos handhelds tende a continuar nos próximos anos. Pelo menos é que aponta números da própria indústria e os aprendizados vistos no cenário pós-pandemia.
Falando sobre números, uma pesquisa da Research and Markets aponta que o mercado do segmento, que era de US$ 32,2 milhões em 2020, saltará para algo em torno de US$ 51,1 milhões em 2027. E novamente: quanto maiores forem os investimentos, maior o desenvolvimento do cenário.
Tanto que novos consoles portáteis já são esperados para um futuro próximo. O Pimax Portal, por exemplo, deve chegar já no começo de janeiro, com a premissa de ser um dispositivo de ponta com suporte VR/AR. Enquanto isso, a há especulações sobre o sucessor do Steam Deck e sobre uma versão 2.0 do Nintendo Switch.
Por fim, há também a tendência deixada pelo cenário pós-pandêmico. O home office virou realidade para muitos profissionais, o que permitiu atividades ao melhor estilo nômade. Alie isso à ascensão das jogatinas móveis em geral e terá uma legião de gamers propensos a levar os momentos de lazer consigo com um handheld.
Dito isso, é válido frisar que os portáteis dificilmente substituirão os PCs ou consoles de mesa. Mas o que foi conquistado por eles dificilmente terá volta. E a partir daqui, eles certamente serão uma alternativa viável para quem desejar uma gameplay de ponta, com tecnologias atuais, qualidade e portabilidade.
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