‘Web3 não é a web de forma alguma’, diz pai da WWW Tim Berners-Lee
Para o cientista da computação, blockchain não é uma solução viável para construir a iteração da próxima internetBy - Liliane Nakagawa, 26 novembro 2022 às 9:20
O creditado criador da World Wide Web voltou a reforçar o seu posicionamento sobre uma das buzzwords do momento, a Web3, durante a Web Summit em Lisboa. Para Tim Berners-Lee, devemos ‘ignorá-la’. O britânico também disse que não vê o blockchain como uma solução viável para a construção da próxima iteração da internet.
Embora para alguns a expressão do cientista da computação soe radical para o termo, que ainda é nebuloso na tecnologia e muito usado para descrever a hipotética versão futura da internet, Berners-Lee lembrou que “é importante esclarecer para discutir os impactos da nova tecnologia”.
“É preciso entender o que significam os termos que estamos discutindo na verdade, além das palavras-chave”, disse o britânico.
O termo é uma alusão à web atual, chamada de web 2.0, dominada por meia-dúzia de empresas que detêm o poder sobre os nossos dados pessoais, como Google, Amazon, Microsoft, Facebook e Apple. A nova versão tem como palavra de ordem a descentralização, envolvendo tecnologias como o blockchain, criptomoedas e NFT (tokens não fungíveis).
Embora a descentralização seja uma ambição compartilhada por Berners-Lee, que lamenta a concentração de dados pessoais nas mãos de terceiros, a ousada definição de uma nova web é criticada pelo criador da WWW. “É realmente uma pena que o verdadeiro nome Web3 tenha sido tomado pelo pessoal do Ethereum para as coisas que eles estão fazendo com o blockchain. Na verdade, a Web3 não é a web de jeito nenhum”, crava.
O Blockchain, definido como um livro-razão de dados descentralizados que os mantêm seguros ao serem compartilhados, e a tecnologia por trás de moedas criptográficas como Bitcoin, não parece convencer Berners-Lee, que acredita mais na descentralização da web com o nome de Solid, atual projeto liderado pelo cientista.
“Os protocolos de Blockchain podem ser bons para algumas coisas, mas não são bons para o Solid”, disse ele. “Eles são muito lentos, muito caros e muito públicos”. Os armazenamentos de dados pessoais têm que ser rápidos, baratos e privados”.
“Ignore coisas da Web3, a Web3 aleatória que foi construída sobre uma blockchain”, acrescentou ele. “Não estamos usando isso para o Solid”.
Confusão entre Web3 e Web 3.0
Além das suas ressalvas sobre o Blockchain como base para a próxima geração da web, Berners-Lee disse que as pessoas muitas vezes confundem Web3 com “Web 3.0” — proposta do britânico de remodelar o que criou em 1989.
A iniciativa da Inrupt, da qual Berners-Lee é cofundador e CTO, tem como objetivo dar aos usuários o controle sobre seus próprios dados – incluindo os acessados e armazenados. Em dezembro passado, a empresa levantou US$ 30 milhões em uma rodada de investimento, de acordo com informações do TechCrunch.
O projeto da empresa visa abordar o objetivo de três formas:
- Um recurso global de “logon único”, a qual permite a qualquer pessoa fazer logon de qualquer lugar.
- IDs de login que permitem aos usuários compartilhar seus dados com outras pessoas.
- Uma “API universal comum”, ou interface de programação de aplicativos, que permitirá aos aplicativos puxarem dados de qualquer fonte.
A ideia é uma resposta ao negócio lucrativo das empresas da Big Tech, que concentram o maior número de dados pessoais para “nos trancar em suas plataformas”. “O resultado foi uma grande corrida de dados na qual o vencedor foi a única empresa que controlava mais dados e os perdedores foram todos os outros”, disse ele.
Desde que a Web3 tem ganhado atenção nas discussões, virtual e presencialmente, ela também tem sido alvo de críticas de algumas figuras do Vale do Silício, como o cofundador do Twitter Jack Dorsey e o seu atual CEO, Elon Musk.
Via CNBC
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