Provavelmente, a humanidade não deve passar pelo mesmo destino dos dinossauros – ou seja: levar um proverbial “socão” de um asteroide grande e morrer pelas consequências disso – por pelo menos mil anos. É o que aponta um recente estudo, publicado em maio no Astronomical Journal, que ressalta que objetos de escalas maiores que estejam próximos ao nosso planeta são constantemente monitorados.

No estudo da cosmologia, da astronomia e da astrofísica, entende-se por um “grande asteroide” qualquer objeto com pelo menos um quilômetro (km) de diâmetro. Um corpo espacial desse tamanho causaria grandes problemas, sim, como alterações climáticas globais, mas o impacto não seria suficiente para causar um evento de extinção. Para fins de referência, o asteroide que levou os dinossauros à morte tinha, em média, 10 km de diâmetro.

Imagem mostra o asteroide 1994 PC1, que tem a maior probabilidade de impacto com a Terra. Cientistas, no entanto, dizem que as chances disso acontecer são mínimas

O asteroide 1994 PC1 (o traço no meio da imagem) é o objeto de grande porte com maior possibilidade de choque contra a Terra, mas mesmo ele tem chances mínimas de nos atingir (Imagem: Osservatorio Astronomico Sormano/Reprodução)

Segundo a pesquisa, validada pela NASA e conduzida por especialistas na Universidade de Boulder, no estado norte-americano do Colorado:

“Geralmente, impactos de asteroide com capacidade de causar dano significativo à Terra são extremamente improváveis. Mas só por garantia, nós fazemos nossa vigilância. [Para este estudo] nós criamos uma abordagem menos computacional para tentar enxergar o futuro em um intervalo de tempo mais longo.”

Traduzindo: normalmente, estudos do tipo levam em consideração janelas menores de tempo – 10 anos, 50 anos, 100 anos etc. Neste caso, o intervalo foi de um milênio, e a constatação foi a de que mesmo o objeto com maior percentual de risco de nos atingir – o asteroide 1994 PC1, com cerca de 1,1 km de diâmetro – tem uma chance incrivelmente baixa: 0,000151%. Mais abaixo, colocamos um vídeo de uma de suas passagens pela nossa “vizinhança”.

Na prática, para que este objeto nos dê um “encontrão”, algo bem grande teria que acontecer para desviá-lo de sua rota prevista – e eventos dessa magnitude são rapidamente capturados por nossos métodos de observação.

“Ainda é bem provável que ele não vá colidir com a Terra”, disse o chefe de pesquisa, Iscar Fuentes-Muñoz. “Mas ainda assim, [estudar o 1994 PC1] é uma ótima oportunidade científica, porque trata-se de um asteroide grande que está bem próximo de nós”.

“Bem próximo”, neste caso, é “com uma chance mínima de passar pela Lua”.

A ciência, hoje, tem vários “maiores asteroides”, dependendo do fator contextual usado para analisar um objeto do tipo: o maior asteroide próximo à Terra, por exemplo, é o 1036 Ganimedes, com quase 41 km de diâmetro. Já o maior asteroide já descoberto em toda a história, ironicamente, nem é bem isso: o planeta-anão 1-Ceres foi apenas o primeiro objeto descoberto no cinturão principal de asteroides, localizado entre Marte e Júpiter, sendo também o maior dele.

Entretanto, o 1-Ceres é bem menor que a nossa Lua, com 27% do tamanho do nosso satélite.

Ok, estamos seguros do asteroide grande, mas e os pequenos?

Nesta parte é que vale a expressão popular: “é aqui que a porca torce o rabo”. O novo estudo considera apenas objetos de um quilômetro ou mais de diâmetro, mas perto da Terra, ainda temos os asteroides menores – aqueles que não passam de 140 metros (m) de um lado para o outro.

E esses têm o poder, por exemplo, de destruir uma metrópole inteira e, pior, ainda não “vemos” todos eles. Segundo Fuentes-Muñoz, mesmo o catálogo mais avançado de pequenos corpos do tipo próximos à Terra – o da NASA – está apenas 40% completo.

Quer ter uma ideia de como o destino às vezes nos prega peças? Em 11 de março de 2022, o asteroide 2022 EB5 veio à Terra, caindo no mar próximo à Noruega. Sabe quando nós descobrimos que haveria um choque? Em 11 de março de 2022, duas horas antes.

Outro exemplo: o meteorito que causou o Episódio de Chelyabinsk, na Rússia, em 2013, provavelmente se originou da entrada de um asteroide de 18 metros de diâmetro que entrou na nossa atmosfera e se despedaçou. O bólido que atingiu o solo (e causou problemas dos mais variados em uma área de mais ou menos 100 km) chegou a ser momentaneamente mais brilhante que o próprio Sol.

Imagem mostra um fragmento do meteorito de Chelyabinsk, que atingiu a Rússia em 2013

Um pedacinho do meteorito de Chelyabinsk, que atingiu a Rússia em 2013 (Imagem: Lumena/Wikimedia Commons)

A razão para isso vem da nossa capacidade de observação: um asteroide pequeno brilha bem menos que seu irmão maior e, como toda observação astronômica depende de luz, nós precisamos que esses objetos diminutos estejam perto de nós para podermos catalogá-los e monitorá-los. O problema é que “perto de nós”, às vezes, é perto demais. No caso do 2022 EB5, a previsão de impacto foi descoberta na janela de tempo do próprio impacto.

Felizmente, não há muita causa para preocupação: apesar de seu poder de destruição, asteroides menores tendem a sequer tocar o solo, se desfazendo nas camadas mais altas da nossa atmosfera. Segundo uma previsão mais recente da NASA, o asteroide 2023 DW é o “líder” no ranking de “objetos que podem colidir com a Terra” (a chamada “Escala Torino de Risco de Impacto”, com uma análise preditiva apontando uma chance em 560 de choque.

Ou, se você quer uma análise mais objetiva, “a chance de colisão é extremamente improvável, sem causa para atenção pública ou preocupação”, segundo a própria NASA.

Mais além, nossos cientistas estão constantemente investigando formas de defender nosso planeta de potenciais choques. O consenso mais usado pela comunidade é o de causar um choque grande o suficiente para “cutucar” um asteroide fora da rota, como o que fizemos na missão DART e devemos repetir o feito com a agência espacial chinesa.

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