Drones já são usados para transportar com sucesso diversos tipos de pacotes. Dentre eles, pacotes de medicamentos que podem viajar distâncias muito além do que pode enxergar o olho nu de quem opera o equipamento. Para a medicina de emergência em áreas remotas, as possibilidades são muitas.

Em Toronto, no Canadá, o doutor Shaf Keshavjee nervosamente olhava o céu, levantando o pescoço para ver um drone que chegava ao campo de pouso no teto do prédio em que ele estava.

O drone tinha feito uma pequena viagem de seis minutos do Hospital do Oeste de Toronto para o Hospital Geral. No entanto, o cirurgião-chefe da Rede de Saúde da Universidade sabia que a carga era preciosa e o tempo era essencial.

Dentro do drone havia uma pequena e leve caixa de fibra de carbono. Era um par de pulmões destinados a um paciente do doutor Keshavjee, um engenheiro que foi operado no último sábado de setembro.

O médico disse ao Global News Canadá que ficou impressionado ao ver o drone com o pacote de pulmões voando entre os prédios. Ficou ainda aliviado após o pouso quando foi possível checar que a carga havia chegado sem falhas.

O médico e a empresa de bioengenharia de Quebec, Unither Bioelectronique, acreditam que a viagem foi a primeira em que pulmões voaram com um drone pré-programado. Estão agora convencidos que a prática será costumeira já que aumenta a corrida para obter órgãos através de viagens aéreas.

O primeiro órgão enviado por drone foi enviado pelo Centro Médico da Universidade de Maryland em Baltimore, quando um rim foi destinado a um transplante, em 2019. Desde então, MissionGo e a Rede de Doadores de Nevada enviaram córneas em um voo de cinco minutos e um rim em outro de 25 minutos. Em maio, um pâncreas voou pelo céu de Minnesota.

Para o doutor é como se fosse o primeiro voo de avião. Foi um voo curto mas iniciou a grande indústria da viagem aérea que temos hoje, disse o médico.

Ainda que pareça que o transporte por drone de órgãos seja uma ambição inatingível, médicos e empresas acreditam que a tecnologia é crucial para melhorar os resultados para pacientes que precisam de transplantes rápidos.

Apenas em 2020, 2.622 canadenses receberam transplantes, 4.129 estavam em listas de espera e 276 morreram antes de conseguir um órgão, ainda de acordo com a Global News.

A empresa proprietária da Unither Bioelectronique, United Therapeutics, está determinada a diminuir o tempo nas listas de espera de transplantes. A empresa foi criada por um dos fundadores da rádio por satélite Sirius, Martine Rothblatt, em 1996, depois de sua filha ter sido diagnosticada com hipertensão arterial pulmonar.

A United desenvolveu um medicamento para salvar a vida da filha do fundador. Depois, passou a investigar xenotransplantes, que usam corações e rins de porcos geneticamente modificados para transplante em humanos. E também medicina regenerativa, que inclui criar protótipos de pulmões de porcos que podem ser populados com células para virar um órgão.

A empresa estuda ainda a impressão 3D de órgãos com as células cultivadas de pacientes. Isto reduziria a taxa de rejeição. Em prédios em Maryland e na Flórida é feita a retirada de trechos de pulmões de pacientes, uma técnica criada pelo doutor Keshavjee para consertar pulmões danificados de doadores.

Há poucos órgãos no mundo e entregas mais rápidas significam que órgãos mais frágeis e sensíveis à mudança de temperatura terão menos chance de se deteriorar e os transplantes terão mais chance de sucesso.

Pulmões são um desafio considerável. São os últimos órgãos a terem sido transplantados com sucesso para humanos em 1983. Apenas em Toronto, 80% dos pulmões oferecidos por doadores são inutilizados por não terem padrões de qualidade de oxigenação, raio-x ou função preservada.

Crescimento do uso de drones para transplantes

As empresas de drones e biotecnologia querem reduzir ainda mais as despesas e ineficiência. Além da Unither Bioelectronique e da MissionGo do Canadá, as empresas dos Estados Unidos AD Airlines e a AlarisPro Transport e a chinesa EHang se esforçam para fazer do voo de órgãos uma realidade comum.

O vice-presidente do programa de gerenciamento de sistemas de entrega de órgãos da Unither Bioelectronique, Mikael Cardinal, afirma que a rivalidade no setor é um grande impulso, mas que o objetivo das empresas não será facilmente atingido. Coragem e preocupação com a segurança são os motivadores das empresas.

A equipe preparou o voo dos pulmões em Toronto por 18 meses. Antes de receberem autorização para voar com o drone em uma área populosa, desenharam uma caixa de transporte capaz de lidar com mudanças de altitude, pressão barométrica, vibrações e outros eventos adversos.

Voos de teste com pacotes de modelos semelhantes a pulmões e mesmo testes de queda para o drone final e a caixa foram realizados. Um pára-quedas foi instalado e um sistema de GPS avançado foi acoplado ao drone.

O Hospital Geral de Toronto foi selecionado por Rothblatt pois foi o primeiro a completar com sucesso o transplante de um pulmão e ainda de um pulmão duplo.

O doutor Keshavjee estava ansioso por participar do projeto e tinha vários pacientes esperando ser os receptores. O médico escolheu um fã de drones, que está se recuperando bem do transplante.

O trabalho ainda está longe de terminar. O site da empresa mostra que 14 projetos de saúde estão em execução, com muitos resultados esperados para curto ou médio prazo.

O fundador diz ficar feliz por saber que, apesar dos vários problemas do mundo, sabe que acordou todo dia fazendo parte de um projeto que salvou uma vida.

Veja o vídeo do Global News Canadá sobre a aventura dos drones da Medicina.

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