A obra “Jogos Vorazes” conseguiu se estabelecer como uma sólida franquia de “filmes-baseados-em-livros” e, desde 2012, vem arrebanhando fãs por todo o mundo. Esses fãs ficaram bem empolgados com o anúncio de “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”, o quarto filme da série – e o primeiro sem Jennifer Lawrence como protagonista.

Eu tive a oportunidade de ver o longa-metragem pelo blog KaBuM! e, embora não seja eu o maior conhecedor da marca, logo de imediato percebi que seria um filme diferente do que os fãs estão acostumados – isso não é ruim: pelo contrário, a produção é consideravelmente boa. Ele só vai causar um choque inicial que exigirá do espectador um pouquinho de paciência…e readequação de expectativas.

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes nos leva a um passado distante, com uma estrela já conhecida

O enredo deste “Jogos Vorazes” é ambientado 64 anos antes do primeiro filme, se concentrando na história de Coriolanus Snow (Tom Blyth) e sua ascensão ao poder, o que eventualmente o levaria à presidência de Panem. Aqui, vemos um jovem que já foi rico, mas por idas e vindas da vida, acabou enfrentando dificuldades na capital.

O filme busca deixar o tom bem explícito logo no começo: Snow atingiu a excelência acadêmica e esperava ser selecionado para programas especiais que o levariam à ascendência política – a presidência já era seu objetivo naquela época. Entretanto, a baixa audiência dos já recorrentes Jogos Vorazes levou a uma mudança de regras implementadas pelo reitor Casca Highbottom (Peter Dinklage) e a diretora dos jogos, Dra. Volumnia Gaul (Viola Davis).

Agora, cada aluno de alto desempenho acadêmico será um “mentor” para os tributos da nova edição dos jogos, e nisso, entra Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), uma adolescente vocalista de uma banda folk em um distrito local, com a típica tenacidade e “malandragem” de alguém que viu os horrores da guerra e “criou uma casca grossa” para…bem…para tudo na vida.

Inicialmente, esse par (eventualmente) romântico parece meio forçado: Lucy Gray faz Snow “de gato e sapato”, como diz a expressão, embora ela própria não tenha intenções maliciosas nessa capacidade. Ela só é mais “ligeira” que ele, que é mais apegado às burocracias e regras da alta sociedade mesmo sem necessariamente ser parte dela.

Eventualmente, no entanto, essa disposição se equilibra e Snow se mostra um hábil diplomata, capaz de “levar na ideia” até mesmo as figuras mais importantes dos Jogos Vorazes que dão título ao filme.

Imagem mostra cena do filme "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes"

Imagem: Lionsgate Studios/Divulgação

Ao invés de ação, diálogo

A principal diferença entre “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” e os outros Jogos Vorazes é na forma que o progride: os três primeiros filmes (bem, quatro, considerando que “A Esperança” é dividido em duas partes) possuem um foco maior na ação que, embora não os torne filmes do gênero, explica esse mecanismo pelo fato de que os filmes anteriores se concentravam em lutas, revoluções e um avanço mais…”guerrilheiro”, digamos. O combate era um ponto importante.

Aqui, no entanto, os titulares Jogos Vorazes ficam em segundo plano, priorizando o avanço da história por meio do diálogo. A ideia é justamente estabelecer a história de Snow – e ele próprio nunca participou diretamente das competições. Como mentor de Lucy Gray, o trabalho dele foi mais parecido com o de um técnico de equipe – embora o “esporte” em questão envolva a morte brutal de crianças.

Como eu disse antes, isso não é ruim, apenas inesperado se você for um fã de longa data: esse foco na narrativa falada ao invés das lutas deixa o filme bastante arrastado – por vezes, até demais – mas se você souber ajustar as suas expectativas, vai ter uma boa (e nova) abordagem para uma marca que você já gosta bastante.

Isso dito, a segunda metade do filme peca bastante ao abrir mão da inspiração inicial: talvez no intuito de acelerar a progressão da história, o filme vira o ritmo na sua própria cabeça, meio que apressando a ocorrência de certos fatos que, no livro que lhe dá origem, são mais minuciosos e detalhados.

Não é nada muito grave – certamente outros pecados cinematográficos já ocorreram – mas a impressão que passou ainda foi a de algo desnecessário. Talvez seja pelo fato do filme ser bem longo: de uma ponta à outra, o relógio marca 2 horas e 38 minutos de tempo e, admito, sem essa pressa amarga, provavelmente ele chegaria à terceira hora, e o que já é arrastado poderia se tornar maçante.

Imagem mostra cena do filme "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes"

Imagem: Lionsgate Studios/Divulgação

O quarto Jogos Vorazes vale o esforço

O filme dá um respiro bastante bem-vindo à franquia Jogos Vorazes ao trazer uma abordagem diferente daquela que estamos acostumados, e para quem vê a mesma receita repetida ao longo de dois, três filmes, uma mudança assim reflete uma tentativa de inovar.

Isso dito, a paciência será uma necessidade: se você simplesmente chegar na sala do cinema esperando “mais um filme da franquia”, corre o risco de se decepcionar – não por uma má qualidade do filme (o que certamente não é o caso), mas porque suas expectativas estavam no lugar errado.

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes tem estreia marcada para este feriado do dia 15 de novembro, em todo o Brasil.

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